A Santa Túnica de Nosso Senhor Jesus Cristo
Quase
todas as pessoas que compareceram à inauguração do Instituto na “Villa
La Clairière” tomaram seus ônibus, no dia seguinte, dirigindo-se à cidade de
Trier (Alemanha), onde formariam um grupo de peregrinos a fim de venerar uma das
mais preciosas relíquias da Cristandade — a Túnica inconsútil de Nosso Senhor
Jesus Cristo.
Segundo
o Evangelho de São João, as vestes de Nosso Senhor foram distribuídas entre os
soldados romanos após a crucificação. Elas constavam de quatro peças. A túnica
que o Salvador usava por baixo das outras peças do vestuário não foi cortada,
mas dada a um dos soldados após sorteio: eles a estenderam no solo e lançaram
sorte sobre ela. Não quiseram cortá-la, pois viram que ela era inconsútil, isto
é, tecida de um extremo a outro sem costuras: “Quando crucificaram Jesus, os
soldados repartiram as suas vestes em quatro partes, uma parte para cada
soldado. Deixaram de lado a túnica. Era uma túnica sem costura, feita de uma
peça única, de alto a baixo” (Jo 19,23-24). O Evangelho de São João narra
expressamente este fato enquanto cumprimento de profecia feita no Antigo
Testamento (Cfr. Salmo 22, 19).
Peregrinos venerando a santa relíquia |
A
Santa Túnica foi mencionada pela primeira vez em documento datado de 1º de maio
de 1196, quando o arcebispo D. Johann I consagrou o altar-mor da catedral de
Trier, nele encerrando essa preciosa relíquia. Com a conservação dessa relíquia
o bispado de Trier superava o renome da abadia de Prüm, possuidora em seu
tesouro, desde o ano de 752, das sandálias de Nosso Senhor Jesus Cristo,
oferecidas pelo rei Pepino, o Breve.
Quando
o Imperador alemão Maximiliano I veio a Trier, por ocasião da Dieta
de 1512, pediu para venerar a Santa Túnica. O arcebispo D. Richard de
Greiffenklau procedeu então à abertura do altar em presença do imperador, como
também de muitos bispos e prelados. Depois da Santa Missa, celebrada em memória
da falecida esposa do imperador, os cidadãos clamaram, ruidosamente, solicitando
que a Santa Túnica fosse exposta à veneração pública. O capítulo da catedral
preparou uma sacada, na fachada ocidental do templo, na qual várias exposições
foram feitas aos habitantes e peregrinos. Estas exposições são atestadas por
vários quadros daquela época, em madeira entalhada.
Até
1517 as peregrinações se sucediam anualmente. Por disposição do Papa Leão X,
elas passaram a realizar-se de acordo com as determinações do Centro de
Peregrinações de Aachen (capital do império carolíngio). Assim, o Centro
estabeleceu os anos das peregrinações seguintes: 1524, 1531, 1538 e 1545. Por
causa de confrontações bélicas e as tropelias desencadeadas pela eclosão do
Protestantismo, a sucessão regular das peregrinações foi perturbada.
Por
medida de segurança, a Santa Túnica foi conservada durante mais de 140 anos
entre — 1628 e 1794, com algumas interrupções — na fortaleza de Ehrenbreitstein,
perto de Coblença. Nessa mesma fortaleza, em 4 de maio de 1765, o bispo D.
Johann IX Philipp de Walderdorff permitiu sua exposição solene, a qual recebeu
numerosos peregrinos. O último arcebispo de Trier, D. Clemens Wenzeslaus, levou
a relíquia para Augsburg, e de lá ela só voltou novamente para Trier em
1810.
Antiga
menção literária da Santa Túnica pode ser encontrada no
drama Orendel,narrado em versos, escrito por volta de 1190.
As
condições da relíquia são hoje difíceis de determinar. O tecido atual está
recoberto de camadas de diferentes materiais. Essas camadas são o resultado de
precauções, as quais as autoridades eclesiásticas se viram obrigadas a permitir,
a fim de melhor proteger a Túnica no momento das exposições. Os materiais são de
idades diferentes e parcialmente danificados, fragmentados ou remendados. A
parte central da peça é constituída de um tecido cuja forma e tessitura são
imprecisas e perfuradas.
Uma
comissão eclesiástica de inquérito – à qual pertenceram como peritos os clérigos
Alexander Schnütgen e Stephan Beißel – qualificou o material castanho da
preciosa relíquia como "linho ou algodão".
A
diocese Trier descreve em seu Website, neste ano, a condição em que se
encontra a relíquia, apoiando-se num relatório de estudos têxtil-históricos, nos
seguintes termos: “A parte da frente da Túnica, tal como ela hoje se
apresenta, é constituída de seda acetinada, de tule castanho e de tafetá
esverdeado. Neste tafetá encontra-se uma camada de antigos fragmentos de tecidos
interligados por cola vegetal. A parte de trás é constituída de tecido de seda
acetinada, de tule castanho, de uma fina camada de gaze, de tafetá sedoso
esverdeado, de uma camada de feltro e de outra camada suplementar de feltro e de
gaze de seda. Supõe-se que fibras de lã constituem hoje, em parte desfeitas, o
núcleo do tecido principal. A datação não pode mais ser precisamente
determinada”.
No Website da
diocese constava, em 2006, esta afirmação taxativa que melhor reflete a
autenticidade da Santa Túnica: “Independentemente da questão da
‘autenticidade material’ da Santa Túnica, pode conter a verdade histórica desta
o fato de os Cristãos venerarem há 800 anos a Túnica de Cristo como sinal da
presença do Deus feito Homem na pessoa de Jesus de Nazaré. Isto é incontestável
e esta ‘autenticidade espiritual’ é certamente mais importante do que qualquer
resposta à pergunta: ‘A Túnica é propriamente autêntica?’”
Veja:
Revista Catolicismo
Revista Catolicismo
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