AUTOR: MONSENHOR
EYMARD L'E. MONTEIRO
(obs: Não confundir com os sonhos de
Dom Bosco)
Com autorização eclesiástica do Exmo. e
Revmo. Senhor Dom Marcolino, Arcebispo de Natal
Estudos e Comentários
– Diácono Francisco Almeida Araújo
(os estudos e comentários foram
autorizados verbalmente para serem divulgados pela internet pelo diácono)
À Guisa de Apresentação
O livro que você, leitor amigo, tem em suas mãos é fruto de três sonhos de
Monsenhor Eymard e que chegou ao nosso conhecimento e logo percebemos o bem que
pode fazer às almas, alertando-as a viverem felizes aqui neste mundo para serem
felicíssimas na outra vida.
Ora, a Santa Mãe Igreja nos ensina que Deus se dignou revelar aos homens as
verdades para a nossa salvação até o apóstolo João. Essa é a revelação pública,
oficial, e à qual todos nós, católicos pela graça de Deus, devemos dar a nossa
total adesão de fé.
Não crer nessa revelação pública, que é a Palavra de Deus, tal qual nos ensina
a Igreja, é colocar o destino eterno em risco de condenação.
A Igreja também nos ensina que pode haver revelações particulares como
aparições, visões, oráculos dos santos e até admite que as tenha havido e que
em certo sentido são aprovadas pela Igreja (Lourdes, Parai Le Monial, Fátima),
mas as considera raras, as quais hão de ser comprovadas e jamais podem ser
pressupostas e só são autênticas as que estão de pleno acordo com a revelação
pública, oficial, que é a Sagrada Escritura. A Igreja não exige que
obrigatoriamente se creia em revelações particulares reconhecidas por ela.
Mesmo o imprimatur da autoridade episcopal não significa o reconhecimento da
Igreja, mas sim de que o conteúdo daquela revelação particular não vai contra a
fé e a moral católica.
O que dizer das penas físicas que padecem as almas no Purgatório ou no Inferno?
Deus
nos fala por comparações, servindo-se de coisas que nós humanos conhecemos para
aproximativamente nos revelar as coisas do mundo sobrenatural (Oséias 12, 10),
caso contrário não haveria comunicação, revelação.
A pena física no Purgatório ou no Inferno e até a felicidade no Céu é
apresentada por figuras, símbolos, embora a sua realidade seja mais estupenda
do que as figuras usadas.
Quanto à pena pelo fogo e outras figuras para representar o sofrimento, temos a
dizer que não podemos precisar em que consiste. O certo é que não podemos pensar
em fogo tal como conhecemos, igual ao deste mundo.
Não esqueçamos que tudo é um estado de alma. O pecador sofre no Purgatório
(temporário) ou no Inferno (eterno) porque reconhece que Deus é sumamente bom e
que ele, voluntariamente, se incompatibilizou com o Sumo Bem.
No Purgatório o fogo do sofrimento purificador é a destruição de todo o nosso
egoísmo, do pecado de nossa alma. Segundo Santa Catarina Gênova, o fogo que
aflige as almas do Purgatório sem as consumir é o fogo de amor, mais doloroso
que o fogo como conhecemos aqui na Terra. Diz-nos ela que é uma pena tão
intensa que não existem palavras que a possa exprimir e nem a inteligência
conceber. A alegria no Purgatório é saber que se verá um dia a Deus face a face
e, assim, a alma aceita com prazer esse sofrimento que a purifica e liberta.
No Inferno o sofrimento representado pelo fogo é infinitamente maior, pois a
alma sabe que está condenada, pois assim ela mesma escolheu; é o fogo não do amor,
mas o fogo do ódio, onde a escravidão do egoísmo se apresenta ao máximo. No
Inferno não há amizade só ódio eterno. Terá a companhia dos piores assassinos,
criminosos da história, a companhia eterna dos demônios. É um ódio que não
acaba nunca, jamais.
Quantos filhos no Inferno odiarão seus pais por ali estarem por culpa deles,
pelos seus maus exemplos, por não lhes terem ensinado o caminho da salvação, do
Evangelho de Nosso Senhor. Os heréticos e apóstatas se odiarão mutuamente.
Odiarão seus “pastores” e odiarão aqueles que um dia os enganaram tirando-os do
caminho da salvação...
Demos graças ao bom Deus pela fé recebida, pela graça de sermos católicos, pois
pertencer e ser fiel à Igreja é sinal de predestinação.
Que a leitura deste livro desperte no coração do leitor um grande amor a Nosso
Senhor, à Virgem Maria, à Igreja Católica e aos irmãos.
Este livro, bem o diz o seu autor Monsenhor Eymard, “fala ao sentimento humano.
São simples sonhos contados numa linguagem leve e atraente.
Foi o que pude fazer, diz-nos ainda o autor, para prender o leitor até à última
página, deixando-o a meditar sobre o que lera...
E por que não dizer?
Gostaria até que ele ficasse um tanto ou quanto impressionado com a leitura,
pois só assim poderia afastar-se do pecado”. Amém, dizemos nós.
VIAGEM AO PURGATÓRIO
Nunca me preocupei com os sonhos. Sobretudo quando eles versam sobre coisas sem
importância e que têm a sua explicação no cansaço da vida, nas preocupações
diárias ou no esgotamento nervoso.
Entretanto, os três sonhos que vou contar merecem um destaque especial, pela
sua significação e pelo seguimento com que me foram apresentados por um
mensageiro de Deus.
Sonhei que me aparecia um anjo de asas tão brancas e longas como se fossem
desconformes para o seu corpo, que parecia de neve. Seu rosto era assim como de
vidro, do qual saía um esplendor divino que ofuscava a minha vista.
Aproximou-se de mim o estranho visitante e saudou-me, reverentemente, dizendo:
Salve, representante de Cristo!
Meio tímido, consegui, entretanto, abrir a boca e responder:
Salve! Quem és tu e que desejas?
Continuou o anjo:
Sou um dos querubins que assistem ao trono sagrado de Deus Onipotente (e aqui o
anjo fez uma reverência) e vim buscar-te para te mostrar o Purgatório. Hoje é
sábado, dia em que Nossa Senhora manda buscar as almas que em vida conduziam o
escapulário e cujos donos morreram com ele. Quero que tenhas uma visão real
daquele lugar de purificação, onde ficam as almas que ainda não tiveram as suas
penas descontadas.
E, no sonho, eu me recordo como falava com o anjo, dizendo:
Sim, mensageiro de Deus. Irei até lá para ajudar os conhecidos que ainda não
tiveram Missas celebradas pelas suas almas.
Verás os padecimentos de várias crianças, alunos de Colégios do lugar onde
moras que, por muito simples motivo, ainda hoje não poderão ver a face de Deus.
Meu interesse de levar-te comigo é justamente por saber que lá estão vários de
seus amigos, jovens que foram teus alunos e que a morte arrebatou do mundo no
começo da vida, em plena mocidade!
E o anjo me tomou em seus braços sobrenaturais como se fossem nuvens que me
envolvessem e atravessou comigo o espaço infinito que nos separava da
eternidade. A amplidão misteriosa que nos rodeava naquele instante e o medo que
me fazia tremer causavam uma angústia profunda no meu coração, impressionado
com o que me poderia acontecer.
Depois de algum tempo, que me pareceu longo demais, nesta subida vertiginosa
para um lugar desconhecido, escutei a voz do anjo que me dizia:
Estamos perto! Peço que não te assustes!
Nuvens pesadas passavam por nós e, à proporção que subíamos, o vento uivava
como um lobo faminto, em noite de luar. Senti arrepios passarem pelo meu corpo,
enquanto avistava, lá embaixo, muito longe, a grande bola da Terra, movendo-se
vertiginosamente em torno de si própria.
Fechei os olhos para abri-los depois, quando me sacudiu o anjo para mostrar-me
um portão de fogo que tínhamos diante de nós. Grossas chamas saíam pelas
frestas, enquanto rolos de fumaça escura invadiam o teto do majestoso prédio.
Disse o anjo:
É aqui!
E, a um sinal da cruz feito com a mão direita em direção à misteriosa entrada,
abriam-se aqueles enormes portões, rangendo nos gonzos que os sustentavam.
Entramos.
Um espetáculo doloroso quase me fez cortar o coração. Via, no sonho, almas que
sofriam as agruras do fogo e que, à minha passagem, estendiam os braços em
atitudes de súplica, sem poderem falar, com uma fisionomia que me causava
profunda angústia.
Elas aqui não falam? perguntei.
Não. As almas não podem falar. Quando chegarem ao Céu, poderão ter conhecimento
de tudo, pela intuição divina. Esta é justamente uma das grandes formas da
felicidade, na bem-aventurança.
E, enquanto falava, o anjo que me conduzia não parava um instante. Parecia
apressado, assim como quem dispunha de tempo marcado para cumprir uma missão.
Levou-me até ao abismo do Purgatório, estacando, de repente, diante de uma
alma. Apontou-me uma jovem de 12 anos, mais ou menos, sentada na ponta de uma
labareda. A pobrezinha oscilava aos movimentos incertos da chama vermelha e
tinha um ar triste de quem já havia perdido a esperança... Olhei-a, conheci
quem era. Lembrei-me dos seus últimos momentos que foram na Terra assistidos
por mim. Quando me viu, levantou-se, abriu a boca, num esforço para falar, para
gritar, sem poder. Depois, tentou um sorriso estérico, numa feia contorção da
boca.
Chamei pelo seu nome:
Marisa!
Mas ela apenas continuou me fitando, enquanto voltava a sentar-se no seu
assento de fogo, a um simples gesto do anjo que me seguia. Agora, apontava ele
para cinco meninos, um dos quais eu conheci também. Havia morrido há muitos
anos de anemia perniciosa e me custou acreditar que ainda estivesse no
Purgatório, pois eu havia já celebrado várias Missas por ele.
Sim, é verdade! disse o anjo. Eles cinco irão agora para o Céu. Tuas Missas
serviram para eles, embora tivessem sido celebradas por um só. Mas Deus
contribuiu os méritos do sacrifício infinito por eles cinco, para que se
salvassem no mesmo dia. Todos usavam o escapulário.
E aquela menina? perguntei.
Aquela menina disse o anjo que na Terra se chamava Marisa, não sairá hoje
porque tem de purificar-se ainda de umas pequenas faltas que cometeu na vida.
Passará mais uma semana no Purgatório.
Olhei para Marisa. E senti toda a angústia de seu espírito. Ao escutar sua
sentença, estremeceu, de leve, e, fazendo que não ligava muita importância às
dores de suas queimaduras, aprumou-se melhor na ponta da labareda que a
envolvia de instante a instante, mergulhando-a naquele mar rubro de imenso
fogo.
Voltei-me para o anjo e perguntei:
Que fez ela?
Respondeu o querubim:
Na Terra, batia o pé para a mãe, respondia-lhe com maus modos, fugia de casa e
juntou-se com uma colega que foi a causa de sua perdição. Adoeceu de uma forte
gripe que apanhou na praia, quando para lá se dirigia, escondida dos pais, com
esta tal colega, vindo a falecer de pneumonia dupla.
Na Policlínica, não é verdade?
Exatamente! Foste tu que lhe perdoaste os pecados, mas agora tem de
purificar-se das penas... Deus a chamou, apesar dos seus poucos anos, antes que
caísse em faltas maiores e se condenasse eternamente.
Baixei a cabeça e caminhei em direção ao portão de saída. Atrás de mim vinha o
anjo com as cinco crianças bem-aventuradas. E, enquanto atingíamos o portão
flamejante, pensava em inúmeras outras crianças lá da Terra, que eu tanto
conhecia, pensava em outras pessoas que estavam em grave perigo de condenação,
por não ligarem aos conselhos dos pais, nem procurarem arrepender-se de seus
pecados ou corrigir-se de suas faltas. E, ao me despedir do mensageiro celeste,
perguntei-lhe:
Será que ainda me vens buscar para outra visita ao Purgatório?
E ele, batendo as longas asas para o Céu, abraçando os novos filhos de Nossa
Senhora, exclamou:
Não! Agora, não te virei mais buscar para o Purgatório. Levar-te-ei ao Céu, da
próxima vez!
Quando acordei, já eram cinco horas da manhã, hora de levantar-me,
imediatamente. Os clarões da aurora tingiam de rubro o horizonte ao longe,
através da minha janela aberta. E, enquanto rezava a oração da manhã, não saía
do pensamento a lembrança de Marisa... No Purgatório ainda, por causa de sua
desobediência!
E saí para celebrar a Santa Missa por aquela infortunada criança, ao mesmo
tempo que pensava:
Quantas Marisas, por aí afora, não haverão de sofrer tanto e tanto no
Purgatório!...
Comentário: Purgatório é Bíblico?
Fui crente, fui pastor protestante e, portanto, não acreditava na doutrina do
Purgatório. Fico triste quando encontro católicos que, influenciados pelo
protestantismo, não acreditam no Purgatório. Alguns me perguntam: é dogma de fé
o Purgatório? É bíblica a doutrina sobre o Purgatório? A minha resposta sincera
e clara é: sim, é dogma de fé o Purgatório e, portanto, bíblica a sua doutrina.
Depois que estudei o assunto sobre o Purgatório descobri ser essa doutrina
altamente consoladora.
A Igreja ensina que o Purgatório é um estado de purificação moral, em que as
almas, não ainda completamente puras, são purificadas mediante penas,
tornando-se dignas do Céu. Essa é a definição do dogma.
Quanto às provas escriturísticas (da Bíblia), encontramo-las em II Mac 12,
43-46: “Em seguida fez uma coleta, enviando a Jerusalém cerca de dez mil
dracmas, para que se oferecesse em sacrifício pelos pecados: belo e santo modo
de agir, decorrente de sua crença na ressurreição, porque, se ele não julgasse
que os mortos ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles. Mas,
se ele acreditava que uma bela recompensa aguarda os que morrem piedosamente,
era isto um bom e religioso pensamento; eis porque ele pediu um sacrifício
expiatório para que os mortos fossem livres de suas faltas”. Este texto do II
livro de Macabeus nos mostra claramente existir um mistério de expiação (um
Purgatório) na vida futura. Leia-se ainda Eclo 7, 37.
I Cor 3, 11-15: “Quanto ao fundamento ninguém pode pôr outro diverso daquele
que já foi posto: Jesus Cristo. Agora, se alguém edifica sobre este fundamento,
com ouro, ou com prata, ou com pedras preciosas, com madeira, ou com feno, ou
com palha, a obra de cada um aparecerá. O dia (do julgamento) demonstra-lo-á.
Será descoberto pelo fogo; o fogo provará o que vale o trabalho de cada um. Se
a construção resistir, o construtor receberá a recompensa. Se pegar fogo,
arcará com os danos. Ele será salvo, porém, passando de alguma maneira através
do fogo”.
O Apóstolo afirma, pois, que alguns, ainda que construindo sua vida sobre
Cristo, entretanto a constroem com obras imperfeitas (palha, feno), serão
salvos, mas deverão passar pelo fogo. É o que ensina a Igreja Católica: muitos
se salvam, mas devido às suas imperfeições deverão “passar pelo fogo” antes de
entrarem no Céu.
Mateus 12, 32: “Todo o que tiver falado contra o Filho do Homem, será perdoado.
Se, porém, falar contra o Espírito Santo, não alcançará perdão nem neste
século, nem no século vindouro”.
Por esta expressão: “Não alcançará perdão nem neste século, nem no século
vindouro”, vemos que há pecados perdoáveis também no século futuro, isto é, no
outro mundo. Este lugar, no outro mundo, chama-se Purgatório.
Mateus 5, 26: “Em verdade te digo, dali não sairás antes de teres pago o último
centavo”.
Aqui não se trata de Inferno, donde não se pode sair; nem do Céu, lugar de
gozo, e não de expiação; mas do Purgatório, único lugar onde se deve expiar
“até pagar o último centavo” das faltas leves cometidas nesta vida.
Apocalipse 21, 27: “Nela não entrará nada de profano nem ninguém que pratique
abominações e mentiras, mas unicamente aqueles, cujos nomes estão inscritos no
livro da vida do Cordeiro”. Ora, por mais puro que seja o homem neste mundo,
sempre ele terá máculas contraídas em sua natureza viciada, já que “o justo cai
sete vezes”. Condená-lo ao Inferno por ter pequenas fraquezas não o quer a
bondade de Deus. Dar-lhe logo o Céu, obsta-o infinita pureza do Senhor. Logo, é
necessária uma expiação ou purgação na outra vida, num estado denominado
Purgatório.
A Tradição também ensina essa verdade, como o atestam os escritos antigos e a
arqueologia.
Para entendermos a doutrina do Purgatório, é preciso saber que nele se
conciliam a justiça e a misericórdia divinas. Não se pode enaltecer a primeira
sacrificando a segunda. Deus, que é rico em misericórdia (Efésios 2, 4), é o
mesmo Justo Juiz (II Tm 4, 8), a cujo tribunal haveremos todos de comparecer
(II Cor 5, 10).
O sacrifício de Cristo no Calvário e que se renova no altar não anula a justiça
divina, mas abre o caminho do perdão. Até esse perdão está dentro de um
critério de justiça. Deus retribuirá a cada um segundo suas obras (Mat 16, 27;
Rm 2, 5-8; I Pe 1, 17; Ap 2, 23; Ap 22, 12, etc).
Muitos homens morrem e comparecem imediatamente diante do Tribunal Justíssimo
de Deus e estão em tais condições que não poderão ser condenados ao Inferno,
pois não estão em pecado mortal, mas, por outro lado, não estão suficientemente
puros para entrarem imediatamente na glória do Céu. Nem houve tempo para um
arrependimento perfeito ou sofrimentos bastante que os levassem mais
profundamente.
Assim como é certíssima a verdade que Deus retribuirá a cada um segundo as suas
obras, é certíssima a existência do Purgatório. Graças a Deus! Louvado seja
Deus!
Deus nos perdoa, mas exige do pecador perdoado uma pena, uma expiação. Basta
lermos Números 14, 11. 12. 19. 20-23; Números 20, 12; Dt 34, 1-5; II Sam 11,
2-7; II Sam 12, 13-14; Jl 2, 12, etc.
O Purgatório nos purifica das penas e das culpas. É doutrina consoladora
extraordinária, pois lá brilha o sol da bondade de Deus.
Pena que o Purgatório seja apresentado só como local de sofrimentos e não de
alegrias, como nos narra São Bernardino de Sena. A maior dor é de, na Terra,
não ter amado mais a Deus e agora (no Purgatório) ter que aguardar um tempo
para ver nosso amado Senhor, face a face. Uma coisa é ver de longe e outra é
abraçá-Lo.
A figura radiosa do Senhor, vista no momento do Juízo particular, é nosso
consolo e força no Purgatório. E ao ver Deus, a própria alma se julga e se
reconhece indigna de entrar diretamente no Céu.
O Purgatório é o tempo, a oportunidade de se purificar. É uma Escola de Amor.
De Amor a Deus. Senhor, dê-nos o Purgatório desde já, aqui na Terra, pois
queremos amá-Lo intensamente. Como a dor nos purifica, nos liberta...
Só queremos Deus. Só Ele nos basta. Diácono Francisco Almeida Araújo
VISITA AO CÉU
O mesmo anjo que, na vez passada, me levou ao Purgatório, veio chamar-me para
ir ao Céu. Ele me havia dito que, em qualquer noite, poderia voltar para me
fazer gozar, ao menos em sonho, a presença de Deus Onipotente, na eterna
bem-aventurança. Passei a semana a esperar pela surpresa agradável. E,
justamente, nesta noite, eu havia adormecido muito cansado pelos trabalhos e
fadigas do dia, com muitos problemas e preocupações. Antes de rezar, fiquei
pensando que seria uma boa oportunidade se aquele belo anjo me viesse buscar
para ver o Céu.
E foi isto o que aconteceu!
Movido apenas por um sinal do meu companheiro divino, vi-me, de repente, na
amplidão do infinito, atravessando as nuvens, subindo, sempre subindo. Uma
alegria indescritível se apoderara de mim e, à proporção que ia subindo,
sentia-me tão leve, tão diferente, que não pude deixar de fazer minha primeira
pergunta:
Para onde me levas, anjo divino?
Vim buscar-te para o Céu! respondeu-me ele.
E por que estou ficando tão leve?
Então, explicou-me o anjo, o que se passava em mim:
Esta sensação que sentes é uma sensação de bem-estar, de alívio, de felicidade
que sentem todos os que se aproximam do Céu. Como sabes, o Céu é o lugar que
Deus reservou para as almas justas e santas, onde não há nem pode haver
tristezas, sofrimentos ou contrariedades. O Céu é a própria felicidade, a
alegria sem restrições dos que sempre desejaram o bem e a posse da eternidade
com Deus.
É lá que tu moras?
Sim, moro no Céu. Sou dos querubins que estão sempre diante do trono de Deus,
para servi-Lo e amá-Lo.
Então, sempre estás a ver Deus?
Sim,
vejo Deus todos os dias. E quando tenho de afastar-me de sua presença, como
agora, para o desempenho de alguma missão, sinto uma saudade imensa do meu
lugar, porque ali a gente vive sempre feliz.
Pensei, então, que bom seria se Deus consentisse que eu ficasse no Céu. E que
este sonho não fosse um sonho, mas a pura realidade!... Quanto mais voávamos,
mais eu ficava transformado, sentindo algo diferente dentro de mim. Começava a
ver os meus desejos satisfeitos e atendia a minha vontade. Via-me contente com
tudo o que possuía e o mais interessante é que não desejava mais nada. E aquilo
me trazia uma grande admiração, pois quantas coisas tenho ainda que fazer, negócios
para resolver e, agora, tudo isso desaparece, por encanto, como se já estivesse
realizado!
Num dado momento, o anjo olhou para mim e falou:
Estamos pertinho do Céu! Olha para baixo!
Olhei. A Terra me pareceu tão mesquinha, tão desprezível, tão sem atrações que
fiquei admirado de me conformar em viver lá. Quis falar com o anjo, mas, quando
olhei o seu rosto, fiquei espantado. O meu companheiro começava a
transfigurar-se, ficando translúcido, tão lindo que fiquei abismado. Um sorriso
divino, meigo e manso esboçava-se em seu rosto que parecia fitar alguma coisa
lá muito distante. Não quis despertá-lo do seu êxtase e esperei que ele me
falasse de novo, a fim de perguntar-lhe o que estava vendo. Por fim, comecei a
ficar, também, transfigurado e pressenti que a velocidade do nosso vôo
diminuía, como sinal de aproximação do Céu. Mais alguns instantes e
encontramo-nos diante de um portão muito mais estreito do que o do Purgatório.
Ao avistá-lo até pensei que por ele não pudéssemos passar e supus que se
tratava de alguma ante-câmera do Céu. Depois que paramos, tive ânimo de
perguntar ao anjo:
E agora, onde estamos?
Diante do portão do Céu! respondeu.
Assim, tão estreito?
E o anjo me explicou:
É que a entrada do Céu é muito difícil. O caminho é apertado e a portinha...
bem que estás vendo!...
O anjo ajoelhou-se diante daquela porta esquisita, fez três reverências
profundas e, aos poucos, ela abriu-se, deixando-nos ver o que estava lá dentro.
Meu Deus, que deslumbramento!
E, a um sinal do meu amigo, segui-o pelas belas alamedas da eternidade. Fomos
andando, entre magníficos jardins de belas flores, sentindo o hálito perfumado
daquele recanto esplendoroso, onde imperava uma beleza que ninguém pode
descrever. Meu corpo se tornava cada vez mais leve. Por pouco, nem tocava mais
no chão! Minha ansiedade era tão grande, que não pude deixar de perguntar ao
anjo:
Isto aqui já é mesmo o Céu?
Sim, já estamos no Céu. respondeu o querubim. Mas o Céu tem muitos
departamentos e agora é que estamos chegando ao primeiro degrau de felicidade.
E apontou-me para umas dependências muito lindas que íamos vendo e que, no
sonho, não tinham portas e eram assim como se fosse de vidro, onde estavam as
almas bem-aventuradas.
O anjo me foi mostrando aquelas mansões, cada uma mais deslumbrante, mais rica
e mais cheia de encantamento. As pessoas que estavam lá dentro tinham uma
fisionomia tão linda que fiquei confundido se eram anjos ou simples almas.
São almas, as almas puras. disse-me o anjo.
E continuou mostrando-me os diferentes degraus daquela felicidade:
Ali estão as almas humildes, lá adiante as almas obedientes e ali quero
mostrar-te as almas das crianças.
Era um lugar maravilhoso, aureolado de luz, com anjinhos que iam e vinham,
sorridentes e felizes. Umas estavam mais altas do que outras.
Por que? perguntei.
Aquelas mais altas estão mais perto de Deus. São as almas das crianças que, na
Terra, respeitaram a Igreja, onde está a Eucaristia.
Aproximei-me um instante e pude ver a felicidade daquelas almas deslumbradas de
luz pela suave magia da presença de Deus. E, como eu estivesse muito admirado,
explicou-me o meu companheiro, o seguinte:
Na Terra, a Igreja é o lugar mais santo. É a casa de Deus por excelência, onde
se realizam os atos litúrgicos em homenagem à Santíssima Trindade. A Santa
Missa é o Sacrifício da Nova Lei, ao qual estão obrigados a assistir todos o
que desejam salvar-se.
Atalhei o amigo, dizendo:
Sei disso, meu querubim. Esqueces que estás falando com um Sacerdote?
Não esqueci que és padre. Apenas quero chegar ao ponto seguinte: as crianças
que se comportam bem na Igreja, respeitando a presença de Jesus Cristo, na
Eucaristia, são aqui largamente recompensadas. Deus vem visitá-las duas vezes
por dia e manda sempre seus anjos para ficarem com elas. Não vistes aquelas
crianças que estavam rindo e conversando na Igreja, domingo, à hora em que
celebravas a Santa Missa? Pois bem, crianças assim não merecem os favores de
Deus, porque estão desprezando a sua casa e a sua presença. Crianças que assim
procedem na Terra, ficarão muito tempo no Purgatório, antes de virem para o
Céu.
Rapidamente meu pensamento voltou-se para a Terra. E, imediatamente, fiz o
propósito de iniciar a minha pregação sobre o comportamento na Igreja, logo que
voltasse ao mundo. Porque, se as crianças que são pequenas sofrem, no
Purgatório, pela falta de respeito na Igreja, que sofrimento não estará reservado
aos adultos?
E continuei meu passeio pelo Céu, olhando a beleza divina da morada dos santos,
seguindo a indicação que me fazia o anjo. Estava deslumbrado com tanta
felicidade e apesar de estar ali, apenas em sonho, sentia-me tão feliz que
fiquei admirado quando o anjo me disse que já fazia um mês que estávamos no
Paraíso.
É tão grande a felicidade que Deus reserva às suas almas que nem tomamos
conhecimento do tempo. Aqui se vive a plenitude do que é bom, sem notar que já
faz mais de um mês que deixamos a Terra!
Isso tudo? perguntei. Parece que foi neste instante que chegamos.
E, ansiosamente, temendo que já estivesse na hora de regressar, perguntei,
aflito:
E já vamos voltar?
Não. respondeu o anjo. Ainda ficarás aqui por vários dias, porque tenho uma
surpresa para ti.
Qual é?
Terás a grande alegria de falar com Deus.
Ouvindo estas palavras, meu coração estremeceu de contentamento. Falar com
Deus. Tantas vezes, na Terra, invocara o seu Nome sagrado, e, agora, ia vê-Lo,
face a face!
Quero mostrar-te também os teus santos protetores e a beleza do lugar onde eles
moram. Olha para trás e vê a grande distância que nos separa do portão de
entrada.
Foi então que percebi que há muitos dias ali estávamos, pois, no sonho, eu via
o portão tão longe, tão distante, sumindo-se, pequenino, entre as nuvens
douradas da pátria celeste. E, por uma intuição divina, percebia que tal
distância só se podia andar, no Céu, dentro de muitos dias.
O anjo levou-me pelas galerias do Céu, ornamentadas com tapeçarias de raro
valor, por onde anjos passavam, sempre calmos, mas com a fisionomia de quem ia
fazer alguma coisa. Quando passavam por nós, faziam profunda reverência e
continuavam seu caminho.
Para onde é que eles vão? perguntei.
São anjos, mensageiros de Deus, que vão à Terra para o cumprimento de alguma
missão, assim como eu estou cumprindo a minha.
E por que fazem uma reverência quando passam por ti?
Por mim, não. Quando passam por ti respondeu o celestial amigo. Bem sabes que o
Sacerdote tem grandes poderes no mundo e, no Céu, eles então, imediatamente,
juntos de Deus.
E, para meu espanto, afirmou:
Sabes de uma coisa? Se um anjo encontrasse, aqui, um Sacerdote e Nossa Senhora,
saudaria, primeiro, ao Sacerdote, para depois saudar à Mãe de Deus!
Foi, então, que um calafrio percorreu a minha espinha.
Meu Deus, em que situação estou colocado? Chamado por Deus para o desempenho de
uma grande missão. Morar no Céu, junto ao Onipotente e ser saudado primeiro do
que Nossa Senhora!
E onde estão as almas dos padres?
O anjo baixou a cabeça, tristemente, e respondeu:
Infelizmente, não poderás vê-las. A grandeza do padre, no Céu, compara-se à
grandeza do próprio Deus. Tenho ordens do Onipotente para mostrar-te o lugar
que eles ocupam, no Inferno, quando são condenados.
Fiquei assombrado com aquela notícia e perguntei:
E daqui vamos ao Inferno?
Não. Daqui não poderemos passar para o Inferno. Verás a condenação eterna de
outra vez.
Então, ainda irás buscar-me para o Inferno?
Foi esta a ordem que recebi.
E, apesar de toda aquela felicidade, da mística alegria que antes invadira o
meu coração, comecei a chorar. Ir ao Inferno para ver o lugar onde sofrem as
almas dos Sacerdotes que não se salvaram!...
Mas o anjo consolou-me, dizendo:
Não te preocupes. São poucos os que se condenam.
Tu, por certo, estarás salvo. Não vês a predileção que Deus te dá? Protege as
tuas obras, ajuda-te, inspira-te bons pensamentos, tudo isso por causa da tua
devoção ao divino Espírito Santo.
Aquelas palavras do anjo caíram em mim assim como um bálsamo em ferida magoada.
E meu semblante encheu-se de luz, enquanto continuávamos nossa visita pelos
paramos celestiais de bem-aventurança.
Estamos diante dos aposentos dos teus santos de estimação. Não podes entrar
porque ainda não morrestes. Mas verás os teus protetores, através das paredes
de vidro que cercam a mansão dos santos.
E, descerrando uma grande cortina de veludo vermelho, apresentou-me os meus
amigos celestiais que, na Terra, são tão invocados por mim.
No sonho, aquele recanto se me afigurava como um imenso campo coberto de mil
flores, embaladas pelas carícias da brisa, como se toda a beleza do mundo, isto
é, do Céu, ali tivesse sido posta pela mão misteriosa do próprio Deus. Minha
alegria chegou ao auge, quando divisei a primeira fisionomia conhecida – Santa
Maria Goretti! Lá estava ela. Olhando-me, esboçou um sorriso tão lindo que não
pude deixar de exclamar:
Mas,
que beleza... que indizível felicidade naquele rosto!...
Disse-me
o anjo:
No
Céu, os que morrem em defesa de sua pureza trazem sempre sorriso no rosto. Até
Deus gosta de contemplar as almas que vivem aqui, por causa de sua pureza!
São Luís de Gonzaga, o patrono do Colégio que eu dirijo na Terra. São Francisco
de Assis, o pobre. São Francisco que foi humilde e amigo da Natureza. Ali eu o
via beijando a irmã água e contemplando a irmã lua.
Santo Antônio, falando aos peixinhos do mar. Santa Teresinha, abraçando o seu
crucifixo. São Domingos Sávio, bradando ao mundo que é melhor morrer do que
pecar. Agora é que vejo porque ele dizia isso.
E minha admiração continuava e iria muito adiante, se eu não tivesse sido
abordado pelo anjo, que me perguntou:
Queres ver o lugar dos papas?
Quero, sim! respondi.
E fomos caminhando pelos gloriosos caminhos do Céu, até, chegarmos diante de
uma monumental basílica, assim como a Basílica de São Pedro, em Roma. Uma
grande porta se abriu, enquanto belos anjos se apresentavam a nós,
perguntando-nos o que desejávamos:
Ver os papas santos respondemos.
Mostra-nos o último que aqui chegou! disse o meu companheiro, dirigindo-se a um
colega.
E, fazendo uma grande reverência a mim, o guardião da morada celestial dos
papas, disse-nos:
Acompanhai-me!
E fomos andando. Os três, em silêncio. O último papa devia ser Pio X. Tinha
vontade de perguntar, mas controlei-me e esperei. Quando fomos introduzidos no
recinto dos Santos Padres, o anjo que nos acompanhava tomou de uma trombeta de
ouro e tocou uma bela música.
Que significa isso? perguntei ao meu amigo.
Aqui, cada papa atende por uma música diferente. Cada um tem o seu toque de
chamada.
E quem é que ele está chamando?
Espere e verás.
E qual não foi a minha surpresa quando, abrindo-se uma cortina de nuvens suaves
e macias, apareceu diante de nós o Santo Padre, o Papa João Paulo I. Não
resisti de emoção e cai, de joelhos, diante dele. Foi um momento de grande
alegria. Fazia pouco tempo que eu havia assistido, na Terra ao seu enterro.
Havia rezado diante de seu corpo exposto na Basílica de São Pedro e, agora, eu
o tinha ali, junto de mim, podendo até tocar-lhe a batina branca como a própria
pureza.
Mas aquilo tudo se passou muito rapidamente e deveríamos continuar nossa visita
até a mansão divina onde morava o próprio Deus.
O anjo preparou o meu espírito, dizendo-me que eu ia ter a imensa felicidade,
que só é dada às almas bem-aventuradas. E que, se eu tivesse algum pedido a
fazer, fosse logo me preparando, porque diante de Deus só se podia falar muito
pouco. No Céu não se fala. As almas se inter-compreendem por meio de um dom
especial que lhes é concedido. Isso faz parte da felicidade eterna. Entretanto
eu ia poder falar pelo simples motivo de ainda não ter morrido e estar ali como
simples visitante.
Enquanto íamos caminhando, pisando num tapete de nuvens, concatenava meus
pensamentos para fazer um pedido ao meu Criador. Mas, meu coração pulava tanto
e uma ansiedade esquisita me apertava tanto a alma, que nem podia acertar com
as palavras que eu haveria de dizer, quando estivesse diante de Deus. Por fim,
paramos em frente a uma entrada defendida por vários anjos enfeitados de luz.
Quando nos viram, ajoelharam-se todos.
Estes são os anjos que velam a presença eterna de Deus disse-me o querubim que
me acompanhava.
E, apontando para um lugar vazio, entre eles, continuou:
Vês aquele lugar desocupado?
Vejo-o, sim.
Pois é o meu lugar. Dali saí, chamado por Deus, para trazer-te ao Céu, neste
sonho, assim como te levei ao Purgatório, na semana passada.
Enquanto contemplava aquela imensa legião de anjos, vestidos com grandes
túnicas, trazendo espadas de ouro flamejante nas mãos, todos de joelhos diante
de nós, continuou o meu companheiro:
Nós aqui só nos ajoelhamos diante dos Sacerdotes e diante de Nossa Senhora.
E diante de Deus? perguntei.
Sim, diante de Deus, estamos todos de joelhos. Agora, dá sinal para que se
levantem.
E, a um pequeno sinal que fiz com a mão, todos se levantaram.
Isso me deixava, cada vez mais, impressionado. Os Sacerdotes, no Céu, são tão
reverenciados quase como o próprio Deus.
E agora, prepara-te para entrar! disse-me o anjo.
Com
o coração ofegante e a alma transbordada de emoção, entrei nos aposentos
sagrados de Deus Onipotente, o Criador do mundo.
Atônito, deslumbrado, fiquei caído diante da Majestade Divina, sem poder olhar
direito aquele resplendor que me cercava de luz. Imóvel, sereno e sem mesmo
bater os olhos, ali me deixei ficar, naquele silêncio feliz e tranqüilo que me
fazia um bem imenso. Face a face, diante do meu Deus, vislumbrava o grande
mistério da Santíssima Trindade, vendo ao mesmo tempo o Pai Eterno, o Filho
Jesus Cristo, aquele de quem eu me tornara um representante e o Espírito Santo,
inspirador dos meus bons pensamentos. E, enquanto os via assim, em três pessoas
distintas, contemplava-as, por uma misteriosa intuição divina, como um só único
Deus. Embevecido, maravilhado com aquela visão que eu nunca poderia descrever,
perdi a noção do tempo, sentindo uma felicidade que não posso explicar em que
consistia, pois era sentida, vivida por mim e não vista! Esqueci-me de tudo o
que se passara antes, e até de mim próprio extasiado diante do meu Senhor. E só
despertei desta entrega de mim próprio à felicidade que me inundava de
satisfação e me enchia de amor, porque o meu companheiro celestial tocou, de
leve, em meu ombro, fazendo-me compreender que estava na hora de sair. E,
segredando-me ao ouvido, disse:
Faz um ano que estás aqui. Deves retornar à Terra para continuares o teu
trabalho junto às almas que te foram confiadas.
E, numa pergunta meio aflita:
Já disseste o que tinhas a dizer?
Não, respondi. Ainda posso falar?
Podes, sim. Aproveita que vou esperar por ti aqui fora.
E retirou-se o anjo, sempre de joelhos, indo colocar-se no seu lugar, junto aos
outros querubins e serafins assistentes de Deus.
Foi, então, que recebi uma graça especial e tive coragem de falar.
Meu Senhor e meu Deus! exclamei.
E uma voz maviosa como sussurro de brisa, tão terna, tão meiga que me encheu de
coragem para continuar, respondeu:
Fala, servo bom e fiel!
Que doces palavras saídas da boca de Deus. Como me sentia feliz e animado
naquela hora que eu desejaria nunca terminasse. Podia compreender, muito bem,
toda a satisfação do Apóstolo São Pedro, quando pediu a Jesus para permanecer
no monte da transfiguração, propondo-se fazer três tendas, três casas, para
Jesus, Moisés e Elias.
Se eu pudesse, também, nunca sairia da presença de Deus e ficaria sempre a
escutar a beleza divina de suas palavras de carinho, alentando-me a fazer o meu
pedido.
Meu Senhor e meu Deus! continuei. Venho para Vos fazer um único pedido. Venho
com a alma cheia de súplica, implorar de Vossa misericórdia perdão para os meus
pecados. Se não sou um Sacerdote de acordo com o que deseja o Vosso coração,
perdoai-me, Senhor, e ensinai-me a viver como desejais.
E aquela mesma voz suave e terna, deixou-me a brandura deste consolo, enchendo-me
de indizível comoção e felicidade:
Sim, meu filho. Teus pecados serão perdoados, na medida do teu arrependimento.
Receberás a graça deste arrependimento.
E, parando um instante, deixou que eu experimentasse daquela divina promessa.
Por fim, voltou a falar.
Que mais desejas? Pede em nome de Jesus Cristo, de quem tu és um representante!
E pedi. Pedi aquilo que eu julgava imprescindível para o equilíbrio do mundo e
para a subsistência da sociedade. Pedi, animado para receber, em nome de Jesus
Cristo, o meu Senhor e Mestre. Pedi assim:
Ó Deus Onipotente, já que tenho a ventura de Vos poder falar, peço-Vos uma
grande coisa. Suplico-Vos que não Vos esqueçais das mães de todo o mundo. Das
mães que me pedem para rezar por elas. Das mães que não sabem ser mães. Das
mães que não cuidam de seus filhos. Das mães que escandalizam os filhos. Das
mães que desrespeitam a maternidade. Das mães que não são verdadeiras mães. Das
mães...
Ia eu assim entusiasmado, fazendo o meu grande e importante pedido a Deus,
quando o anjo tocou no meu ombro, dizendo-me:
Deus tem outras coisas para resolver. Já faz mais de um ano que estás aqui,
diante dele. Chegou a hora de regressares à Terra. E, mesmo, Deus não poderá
atender a todos os seus pedidos sobre as mães. O mais necessário seria que
elas, lá na Terra, empregassem os meios para conseguir a salvação. Mas, se não
se convertem, se não procuram a Deus, não O podem encontrar. Bom seria se
voltasse à Terra e tratasse de prepará-las com tuas pregações, para a grande
missão da maternidade, para a sublime vocação de poder dar santos ao mundo.
E puxando-me, de pé:
Ergue-te, vamos, não vês que Deus não está mais aqui?
Verdade, sim. Deus não estava mais ali. E eu a querer continuar falando,
pedindo, insistindo. Puro egoísmo de minha parte. Aproveitando-me da
oportunidade para querer tudo de uma só vez. Sim, Deus não estava mais ali e
fiquei sem saber como Ele havia recebido este outro meu pedido.
Acompanhei o meu guia até o portão de saída do Céu e ali me despedi,
perguntando-lhe:
Virás ainda buscar-me para visitar o Inferno?
Sim, foi esta ordem que recebi de Deus.
Estremeci de susto.
E quando será?
BREVEMENTE! exclamou o mensageiro divino.
Nesta hora, despertei e sentei-me, imediatamente, na cama. Meu Deus, que teria
sido isso? Um pesadelo? Um simples sonho? Um aviso de Deus?
Enquanto me preparava para celebrar a Santa Missa, pensava, unicamente, na
resposta do anjo, avisando-me de que, brevemente, levar-me-ia a visitar o
Inferno.
E pedi, com toda a alma, a Deus que me livrasse deste outro sonho!...
Comentário: O Céu
É dogma de fé de nossa Santa Igreja que as almas dos justos que no instante da
morte se acham livres de toda culpa e pena do pecado entrem no Céu. O Céu, ensina-nos
a Mãe Igreja, é um lugar e estado de perfeita felicidade sobrenatural, a qual
tem sua razão de ser na visão de Deus e no perfeito amor a Deus que dela
resulta.
O coração humano é uma exigência de felicidade e todos nós temos uma nostalgia,
uma saudade imensa do Paraíso perdido. Quantas vezes não sentimos uma saudade
forte e não sabemos bem de quê. É do Céu, pois Deus nos criou para a Vida
Eterna, para a Felicidade Eterna. A Sagrada Escritura registra a verdade sobre
a imortalidade da alma (Salmo 48, 16; 72, 26; Daniel 12, 2; II Macabeus 6, 26;
7, 29.36). A Bíblia fala da ressurreição em muitas passagens e condena a
superstição reencarnacionista, pois só temos essa vida aqui na Terra, vindo
depois a Eternidade (Hebreus 9, 27).
O livro de Sabedoria nos descreve a felicidade e a paz das almas dos justos,
que descansam nas mãos de Deus e vivem eternamente com Ele (Sabedoria 3, 1-9;
5, 15-16). Nosso Senhor representa a felicidade do Céu sob a imagem de um
banquete de casamento (Mateus 25, 10; 22, 1ss; Lucas 14, 15ss) designado esta
bem-aventurança de vida ou vida eterna (Mateus 19, 19; 25, 46; João 3, 15ss; 4,
14; 5, 24; 6, 35-39; 10, 28; 12, 25; 17, 2). A condição para alcançar a vida
eterna é conhecer a Deus e a Cristo (João 17, 3). Aos puros de coração, Cristo
promete que verão a Deus (Mateus 5, 8).
Nada na Terra pode ser comparado à beleza e à felicidade do Céu, embora a
beleza e a felicidade aqui neste mundo, seja uma pálida imagem da realidade do
Céu. Leia-se as palavras do Apóstolo São Paulo, que foi arrebatado até o Céu (I
Coríntios 2, 9; II Coríntios 12, 4). Aos fiéis que perseverarem até o fim está
garantida uma recompensa da vida eterna (Romanos 2, 7; 6, 22s) e uma glória que
não tem proporção com os sofrimentos deste mundo (Romanos 8, 18). Em lugar do
conhecimento imperfeito de Deus que possuíamos aqui nesta vida, então veremos a
Deus imediatamente (I Coríntios 13, 12; II Coríntios 5, 7).
Uma idéia fundamental da teologia de São João é que pela fé em Jesus, Messias e
Filho de Deus, consegue-se a vida eterna (João 3, 16.36; 20, 31; I João 5, 13).
A vida eterna consiste na visão imediata de Deus (I João 3, 2). O livro do
Apocalipse nos descreve a felicidade dos bem-aventurados que se acham na
presença de Deus e do Cordeiro, isto é, Cristo glorificado. Todos os males
físicos desaparecerão (Apocalipse 7, 9-17; 21, 3-7).
No Céu, os que permanecerem na fé verdadeira, também serão extraordinariamente
felizes, pois estarão na companhia de Cristo (no tocante a Sua humanidade), da
Virgem Santíssima, dos anjos, dos santos e voltarão a reunir-se com os seres
queridos, familiares e amigos, que tiveram durante a vida terrena e conhecerem
as obras de Deus.
Diz-nos, ainda, o dogma de nossa fé católica, que a felicidade do Céu dura por
toda a eternidade. Nosso Senhor compara a recompensa pelas boas obras aos
tesouros guardados no Céu, o que não se podem perder (Mateus 6, 20; Lucas 12,
33; 16, 9). Os justos, diz a Sagrada Escritura, irão para vida eterna (Mateus
25,46; 19,29; Romanos 2, 7; João 3, 15s). São Paulo fala da eterna
bem-aventurança empregando a imagem de uma coroa incorruptível (I Coríntios 9,
25). São Pedro, nosso primeiro Papa, a chama de coroa imperecível de glória (I
Pedro 5, 4).
O Céu é o cumprimento de todos os desejos legítimos e análogos ao estado futuro
do homem (Salmo 16, 15). Para o provar, bastam estes dois princípios:
primeiramente, o Céu é o livramento completo do mal e o gozo completo da pura
felicidade sem fim; em segundo lugar, o homem será, no Céu, verdadeiro homem,
isto é, em corpo e alma. O Céu será pois, a felicidade completíssima do corpo e
da alma. Assim nos ensina a Santa Mãe Igreja baseada na Sagrada Escritura, na
tradição e a nossa razão, o nosso coração diz amém! O Céu é uma exigência
fundamental do coração humano.
Eis, pois, a razão porque o homem deseja o Céu com todas as forças do seu ser.
Criado para a felicidade, gravita incessante e irrestivelmente para o seu fim,
como a agulha tocada com o ímã para o pólo, e como tudo na natureza para o seu
centro. Desde o berço até o túmulo, este ser abatido e desgraçado busca a sua
reabilitação e o livramento do mal; este rei destronado busca o seu trono;
busca-o por toda a parte, lembrando-se do Céu. Lamentavelmente, o homem sem a
estrela, a bússola que o conduz ao Céu, a Igreja Católica, na sua procura de
felicidade coloca-a onde ela não está e essa é uma terrível conseqüência de sua
degradação. Dir-se-ia uma grande criança que, colocada na margem de sereno
lago, vê de súbito no espelho das águas a imagem da lua. Toma-a pelo próprio
astro, e no seu erro, precipita-se no lago, e a imagem de despedaça; e quanto
mais se agita para a apanhar, menos a alcança. E o que resulta dos seus penosos
esforços é a fadiga, o desespero, a morte no meio das águas. É o homem a buscar
a seus pés o que está acima dele, perseguindo a sombra e não a realidade. Seu
coração deseja felicidade, o Céu, mas o homem sem a razão iluminada pela fé
segue o instinto e como pecador abraça a sombra dos prazeres da carne e erra o
alvo; ao invés do Céu e da liberdade, encontra o Inferno, a
escravidão. Diácono Francisco Almeida Araújo
O SONHO DO INFERNO
Depois dos sonhos que eu tivera na semana passada e que foram, mais ou menos,
contados nestas páginas, não tinha dúvidas de que o anjo me apareceria,
novamente, para levar-me ao Inferno. Os dois primeiros passeios que ele me
proporcionou, até me alegraram bastante, sobretudo o do Céu. Mas, diante de sua
promessa de levar-me ao Inferno, não tive mais tranqüilidade.
Entretanto, eu deveria visitar o lugar dos réprobos na condenação eterna, para
examinar de perto, os horrores sofridos pelas almas condenadas, por causa de
seus pecados cometidos na Terra. Fazia muitas noites que eu dormia
sobressaltado. E pensava:
Meu Deus, será hoje que o sonho acontecerá?
E rezava, rezava muito, pedindo a Deus que me dispensasse de ver o sofrimento
das almas no Inferno.
E alguns dias se passaram.
Mas, quando foi esta noite, sonhei, afinal...
Sonhei que o mesmo anjo, de fisionomia alegre e tão divina, que me havia levado
ao Céu, e, antes, ao Purgatório, apresentava-se diante de mim, de semblante
carregado e austero. Perguntei:
Por que estás tão sério?
O Inferno é tão horrível que mesmo os anjos de Deus se transformam quando têm
de ir até lá, no cumprimento de alguma missão. Eu mesmo não desejava mostrá-lo
a ninguém, mas esta é a terceira vez que estou encarregado de fazer.
Ora, pensei comigo mesmo:
Se este anjo que mora no Céu e pode tudo, não deseja ir ao Inferno, quanto mais
eu!
E me lembro que, no sonho, me ajoelhava no chão e dizia ao anjo que eu também
não queria ir, mas, se fosse da vontade de Deus, estava pronto. Apenas lhe
pedia para ajudar-me a não ficar impressionado com o que tivesse de ver por lá.
Respondeu-me que Deus queria que eu observasse os horrores da condenação
eterna, por causa da minha missão de Sacerdote, a fim de que pudesse pregar
melhor contra o pecado.
E, dizendo-me estas palavras, segurou-me pela cintura e, de repente,
encontramo-nos no espaço, voando por entre nuvens pesadas e ameaçadoras.
Tenho medo! exclamei.
E abracei-me com o meu protetor, cuja fisionomia cada vez mais se abatia.
Notei, então, que, ao contrário das outras vezes, nós íamos descendo. E, aquela
sensação desagradável de que ia levar uma grande queda, assustava-me a cada
momento. Pensava, de instante em instante, que algum obstáculo se apresentasse
diante de nós e meu coração estava tão pequeno como se fosse deixar de bater.
Isso mais se acentuava quando entrávamos numa nuvem espessa, escura,
aterradora. Tinha uma impressão horrível de que algo de extraordinário estava
para acontecer e comecei a chorar.
O anjo abraçou-me com carinho e disse-me:
Nada temas. Estás com a minha assistência e tenho poderes de Deus para
proteger-te.
E querendo distrair-me um pouco, acrescentou:
Olha para cima!
Foi então que, pela primeira vez observei a Terra distanciando-se de nós,
perdida no espaço, a girar, vertiginosamente. E, à proporção que descíamos, ela
se tornava cada vez menor.
Um vento quente, como se viesse de um forno, começou a soprar. Tinha os lábios
ressequidos, os olhos inchados e as orelhas pegando fogo. Meu Deus, que será de
mim? O anjo não falava. Estava sério e preocupado, continuando a segurar-me
pela cintura. Aquele seu abraço era o único alívio que eu experimentava
naquelas circunstâncias. E a certeza de que haveria de proteger-me, dava-me
alento para continuar aquela misteriosa viagem.
Mais uns instantes e escutei uma voz que me pareceu tão soturna, tão cavernosa,
como se fosse de assombração:
Estamos chegando!
Era o anjo a anunciar que estávamos próximos do grande portão do Inferno.
Por que a tua voz está diferente? perguntei.
É pura impressão respondeu ele. No Inferno é assim, as coisas são sempre muito
pavorosas...
E aquela voz, antes tão macia e delicada, agora parecia um soluço do infinito.
Ali está o grande e amplo portão do Inferno!
E o anjo apontou-me para baixo, onde podia ver uma enorme lufada de fumaça
negra, deixando transparecer, pelas frestas das imensas portas, um fogo
aterrador, que parecia consumir tudo lá dentro.
Será que o fogo está destruindo o Inferno? perguntei.
Não! respondeu o anjo. O fogo do Inferno é eterno e não se acaba nunca. Nem tão
pouco consome as almas que moram lá. Elas são queimadas, mas não destruídas!
Aproximávamo-nos cada vez mais do grande portão.
Agora diminuía a velocidade de nossa descida e podíamos ver, claramente, pelos
buracos e trincaduras do portão, o fogo quente e voraz da infelicidade eterna.
Chegamos.
Aqui, tudo é fácil disse o anjo. Entra-se sem nenhuma complicação, é só fazer o
sinal. Aliás, nem precisa, ali já estão eles a nos esperar. Pensam que somos
condenados.
Olhei para um lado e deparei-me com mais de cem demônios ¾ espetáculo horrível,
que eu nem queria descrever. Eram como grandes homens, de rabos e chifres,
trazendo nas mãos, uns garfos enormes, tão quentes como se fossem de ferro
incandescente. Quando abriam a boca, deixavam sair chamas de fogo por entre os
dentes, e os olhos eram esbugalhados, quase saindo das órbitas. Seus braços
eram alongados e as mãos pareciam tenazes segurando a terrível arma.
Agarrei-me, fortemente, ao meu companheiro, sentindo a quentura de uma daquelas
feias bocas abertas junto do meu rosto, enquanto uma risada infernal,
histérica, como de louco, fez-se ouvir pelas quebradas do Inferno. Parecia um
trovão a ribombar pela eternidade.
Que é isso? perguntei, assustadíssimo.
É o sinal que eles dão, quando chegam almas para o seu reino. Esta risada
horrível é a satisfação que eles sentem no seu passageiro triunfo contra Deus.
Enquanto assim me explicava, o anjo puxou a sua espada de ouro e apontou para
os demônios acocorados diante de nós, exclamando:
Vim da parte de Deus. Ide-vos embora.
Ao escutarem o nome de Deus, os diabos sumiram-se, em dois tempos, com grande
alarido e rinchos de revolta, deixando, cada um, após si, um rastro de fogo,
dando urros que estremeciam até os portões da infernal entrada.
Agora, estamos sós. Ninguém nos incomodará. Lê aquela inscrição.
Obedecendo à indicação do meu protetor, levantei os olhos para o alto da porta
do Inferno e li estas palavras:
“Ó
vós que aqui entrais, deixai de fora todas as vossas esperanças, porque nunca
mais saireis daqui!”
Esta legenda era escrita em letras de fogo e só em pensar no destino dos
condenados ao fogo eterno, estremeci de horror.
Vamos entrar? convidou-me o anjo.
Quando olhamos para o portão, vimos que estava completamente escancarado. Lá
dentro, um quadro horrível apresentou-se aos meus olhos. Eram almas envolvidas
em grandes fogueiras, cujas chamas lambiam, ameaçadoramente, as paredes do
tétrico cárcere do Inferno. Fui me aproximando, devagar, completamente
assombrado, daqueles infelizes que esbravejavam e rugiam como feras
enraivecidas. Diante do meu espanto, disse-me o anjo:
Isso aqui não é nada. Estamos no primeiro grau da condenação eterna.
E marchando, mais rapidamente, exclamou:
Vem comigo.
Atravessamos um mar de fogo, onde os demônios histéricos davam risadas de
loucos, abrindo aquelas enormes bocas junto de minha cara, deixando-me tremer
de pavor. Um hálito quente saía de suas entranhas, vindo em borbotões de fumaça
fétida, congestionar, ainda mais, os infelizes.
O anjo mostrou-me o departamento dos que ainda estavam esperando o grau de
condenação que Lúcifer, o chefe do Inferno, lhes daria, dentro de poucos dias.
Vi, nestas almas, a fisionomia apavorante do sofrimento. Ímpetos de revolta,
num constante esbravejar de impropérios, saíam de suas bocas ardentes. Ali,
ouvia-se choro e mais adiante, o desespero em uivos de rancor. Milhares de
demônios luzidios, armados de aguçados garfos, empurravam estas almas para o
interior de um escuro buraco, onde só havia pranto e ranger de dentes.
Fechei os olhos para não presenciar mais aquele doloroso espetáculo e fui
amparado pelo meu amigo que aproximando-se de mim, confortou-me:
Deus quis que visses estas cenas, porém nada sofrerás.
Mas eu não suporto isso! exclamei.
E saímos, os dois, para um lugar mais calmo.
Quero mostrar-te os diversos castigos impostos às almas, de acordo com a
qualidade dos pecados de cada criatura.
Neste momento, por nós, passaram dois diabos terríveis, dando risadas que mais
pareciam ribombar de fortes trovões.
De onde vêm eles? perguntei.
Vêm da Terra. Foram buscar um moribundo que acaba de morrer. Não quis
confessar-se e morreu em pecado.
E, apontando-me para a infeliz criatura, disse:
Vê quem era ele!
Quando me virei, deparei com um dos meus amigos que, realmente, estava doente
na Terra. Quando me viu arregalou os olhos, rangeu os dentes e contorceu-se,
convulsivamente, espojando-se no chão quente do Inferno, deixando-me a tremer
de agonia e de medo.
Fiquei impressionado com a morte e a condenação do meu amigo. Se eu estivesse
lá na Terra, teria conseguido confessá-lo.
Impossível! disse o anjo. Rejeitou a graça de Deus e foi desprezado aos seus
próprios destinos.
Chegamos, finalmente, a um lugar descampado, onde o anjo mostrou-me várias
espécies de sofrimentos.
À nossa passagem, rostos contorcidos pela amargura da dor pareciam querer nos
devorar com os olhos. Braços descarnados pelo fogo se estendiam em nossa
direção, como a pedir socorro que não podíamos dar. Comecei, de novo, a me
sentir mal naquele ambiente de sofrimento e abracei-me com o anjo, chorando,
convulsivamente.
Tens medo?
Tenho, sim. Sobretudo pena destas almas. E fico a pensar por que foi que se
condenaram. De quem seria a culpa? Delas próprias?
Em tua pergunta leio teu pensamento... Sei o que queres dizer!...
Sim, querido anjo. Penso na grande responsabilidade dos Sacerdotes. Muitas se
perdem por nossa negligência, não é verdade?
Verdade, pois não.
No Céu, não me quiseste mostrar o lugar de glória dos padres. Será que vais
mostrar-me aqui o lugar de sua condenação?
Foi a ordem que recebi de Deus. Mostrar-te-ei o lugar onde ficam as almas dos
padres que não se salvaram.
À proporção que marchávamos, o espetáculo de horror ia crescendo.
Disse-me o anjo:
Lembra-te que este sofrimento aqui é eterno. No Purgatório ainda há esperança
da salvação. Mas aqui, tudo termina com a entrada do condenado nesta cidade
maldita.
E voltando-se, rapidamente, para mim, acrescentou:
Mas, sabes qual é o maior sofrimento do Inferno? É a ausência de Deus. É
saber-se que existe uma felicidade suprema, um lugar de tranqüilidade onde
todos os nossos desejos são satisfeitos, um lugar de glória, onde não há dores
nem lamentos, para o qual foram todos criados, sem se poder, nunca mais, sair
daqui. E o pior ainda é que as almas condenadas sabem perfeitamente que estão
aqui de livre e espontânea vontade. Deixar o Céu por este sofrimento eterno!
Então, a ausência de Deus ainda é pior do que isso?
É, sim. Este sofrimento é imposto pelo próprio pecado. Lembra-te, entretanto,
que o homem foi feito para Deus, pois Deus é o seu fim último. E eles não
possuirão a Deus! Ficarão sempre neste eterno desejo, nesta eterna
insatisfação.
Íamos caminhando.
O anjo me mostrou uma grande quantidade de espinhos.
São almas explicou-me. É uma espécie de sofrimento. Queres ver?
E, aproximando-se dos galhos retorcidos no chão, apanhou um deles e partiu pelo
meio.
Meu Deus, que vi?
O sangue escorrendo daquele galho partido, pingando no chão, um sangue quente,
escuro, grosso, enquanto um gemido magoado e profundo parecia ser daqueles
galhos recobertos de espinhos, movendo-se, misteriosamente, no chão.
Este é o sofrimento reservado às pessoas que, em vida, pecavam, humilhando e
desprezando o próximo, disse o anjo.
E continuou sua apresentação, ao mesmo tempo que explicava os respectivos
sofrimentos.
Vês este mar de lama?
Vejo, sim.
São almas transformadas em lama... Aqui no Inferno é assim que o pecado das
baixezas, das hipocrisias e das traições é punido.
Vi, em seguida, um enorme tanque, contendo grande quantidade de chumbo
derretido.
São as almas dos ambiciosos!
Mais adiante, aquele reservatório gigante de ouro incandescente:
As almas dos ricos e avarentos são castigadas aqui, sendo transformadas em ouro
derretido.
Agora, vamos atravessando um rio de sangue.
São as almas dos assassinos!
Até que chegamos a um lugar esquisito, onde o anjo parou, dizendo-me que eu ia
ver o que jamais pensara em ver!
É o lugar do mistério disse o anjo.
Que mistério?
Um lugar misterioso, diferente dos outros, onde estão as almas prediletas de
Satanás...
As almas prediletas de Satanás? Quais são elas?
Prediletas de Satanás e de Deus também...
Eu estava ofegante, com a respiração em desespero, sem saber de que se tratava.
Enquanto o anjo prosseguia na sua explicação.
Estas almas são as escolhidas por Deus para um lugar de destaque no Céu. Mas
Satanás, com inveja, deseja-as mais que as outras e manda legiões de demônios
para a Terra procurá-las. Eles têm ordem de Lúcifer de empregar todos os meios
de perdê-las.
Mas, por que não me dizes de quem são estas almas?
Porque irás vê-las, dentro em pouco.
E, apontando-me para umas nuvens de fogo, mostrou-me alguns demônios que vinham
em estertores medonhos, acompanhados pelas vociferações esbravejantes de uma
alma que eu não podia saber quem era.
Que alma é esta? perguntei.
Pobre alma! exclamou o anjo. Alma querida de Deus, feita por Deus para salvar o
mundo, para dar santos ao mundo e, agora, aqui ficará eternamente sem poder
gozar da grande recompensa que Deus lhe havia reservado.
Querido anjo, dize-me, de quem se trata?
O seu lugar ficará sempre vazio no Céu. Jamais será ocupado por outra alma.
E os demônios passaram por nós, deixando-nos envolvidos na nuvem de fogo que os
cercava, com sua preciosa presa.
Agora, irás saber de quem é esta alma. Eles vão abrir o cárcere destas
infelizes criaturas. Ela ficará junto às outras companheiras de infortúnio
eterno! Vê, estão abrindo a porta.
Meus olhos estavam pregados na grande porta, diante de nós. Meu coração pulsava
tão forte, que não me sustentava em pé. Minhas pernas tremiam, eu estava tomado
de grande pânico até que senti desfalecerem-me as forças. Segurei-me ao anjo,
dizendo:
Vou desmaiar...
Não, disse o anjo. O poder de Deus dar-te-á força porque ainda verás outra
coisa pior!
E, caído no chão quente do Inferno, aos pés do meu protetor, fui seguindo os
movimentos dos demônios, abrindo aquele cárcere de mistério. Um estrondo
medonho abalou toda aquela sala imensa, quando, afinal, as suas portas foram
escancaradas.
Neste momento, levantando-me pelo braço, disse-me o anjo:
Vês as almas que estão lá dentro!
Olhei-as! Meu Deus, que aflição, que dor tão profunda feria todo o meu ser. Não
posso acreditar no que vejo!
E, fitando aqueles animais horríveis, aquelas bestas horrorosas, em contorções
e espasmos horripilantes, exclamou o anjo:
Aí estão elas! São elas, as almas de todas as mães que se condenaram. As almas
prediletas de Deus, as almas queridas de Deus, aquelas por quem Deus tem mais
predileção. Elas, as almas das infelizes mães que não souberam ser mães, que
desprezaram o grande apanágio da maternidade, que se descuidaram dos filhos,
deixando que muitos se perdessem por causa de sua negligência.
Eu olhava, atônito, aquele espetáculo tenebroso, em que asquerosos demônios,
ameaçadores como cães enraivecidos, atiram-se sobre aquelas almas transformadas
em bichos, como a querer devorá-las, espetando-as nas pontas de seus garfos
incandescentes.
Pobres mães! pensei eu. É assim que elas, as descuidadas, são condenadas pelo
descaso em que viveram. As mães, as que foram elevadas à mesma dignidade de
Nossa Senhora, mas não quiseram escutar a voz de Deus que as chamou para
desempenhar tão alta missão.
Enquanto estava eu assim, absorto em meus pensamentos, vi outra leva de diabos
que arrastavam mais uma mãe que entrava na condenação eterna. Foi então que,
levantando os olhos, pude ler, no teto daquele pavoroso cárcere, as seguintes
palavras, como uma saudação macabra às mães que ali se encontravam.
“Eis
as nossas colaboradoras, na grande obra da perdição do mundo!”
Vendo-me ler esta inscrição, atalhou o anjo.
Sim, porque se todas as mães fossem santas, piedosas e educassem, cristãmente,
os seus filhos, o mundo não iria tão mal. Não haveria juventude
transviada, nem veríamos na mocidade de hoje uma ameaça constante à
subversão da ordem.
Quer dizer que a santidade do mundo é devida, exclusivamente, às mães?
perguntei.
Exclusivamente, não respondeu o anjo.
E frisando bem as palavras, acrescentou:
Quase exclusivamente. Digo assim porque existe outra classe de pessoas a quem
Deus confiou a salvação das almas e a santidade da vida.
Aos Sacerdotes? perguntei.
Sim. Deus confiou a salvação do mundo às mães e aos Sacerdotes. Por isso,
reservou-lhe os melhores lugares no Céu, assim também como Lúcifer lhe reservou
os maiores sofrimentos no Inferno.
E, numa pergunta que era um verdadeiro desafio a mim:
Queres ver onde estão as almas dos padres que não se salvam? Tens coragem?
Naquele momento, eu estava mudo de terror. Uma angústia esquisita apoderava-se
de mim e eu sentia uma sensação de quem ia precipitar-se num abismo.
Se esta é a vontade de Deus exclamei desejo ver os meus irmãos no sacerdócio!
Pois nem é preciso sairmos daqui volveu o anjo. As mães e os padres estão num
mesmo pé de igual sofrimento na eterna condenação. Vês aquela porta que está se
abrindo!
Foi então que escutei o ranger dos gonzos que giravam sobre si mesmos, enquanto
duas bandas de portas se abriam para dar passagem a mais um padre que ia
chegando ao Inferno.
Quadro impressionante
aquele que eu via neste sonho, que eu daria tudo para terminar o mais depressa
possível. Via inúmeros corpos sem cabeças e sem pernas, só os troncos,
movimentando-se de braços estendidos para um invisível, para algo que não
estava ali.
É o desejo de possuírem Deus! explicou o anjo. Não têm pernas porque elas lhes
foram dadas para que caminhassem pelo mundo, na faina gloriosa da pregação do
Evangelho a todos os povos. Como empregaram suas caminhadas para o serviço do
mal, aqui têm de mover-se sem pernas. E não têm cabeça, porque Deus lhes deu os
olhos, os ouvidos, a boca, o nariz, o cérebro e o pensamento para serem
aplicados na conquista das almas, no serviço de regeneração do mundo e na
restauração do reino de Cristo. Por meio da palavra e do pensamento, os
Sacerdotes deveriam santificar todos os homens. Como não realizaram esta vontade
de Deus, apesar de terem sido chamados por Ele para tão nobre missão, no
Inferno são punidos, separadamente: os corpos de um lado, como acabas de ver e
as cabeças de outro, unidas às pernas, cousa monstruosa. Queres ver?
E conduziu-me o anjo a um lugar sombrio, onde a fumaça nos trazia um cheiro
aborrecido de carne humana queimada. Fomos andando. De repente, avistei
horríveis monstrengos. Eram cabeças em que se viam olhos esbugalhados e bocas
desmedidamente abertas, querendo pronunciar palavras que não saiam.
Imediatamente, ligadas a estas cabeças, duas pernas que se movimentavam, sem
saírem do lugar. E mais os demônios que se divertiam com a posição aleijada
daqueles monstros, envolvidos em labaredas a devorá-los, queimá-los enquanto uns
grunhidos de animais amordaçados se faziam ouvir naquela sala fétida e
congestionada. Foi o lugar mais quente que encontramos no Inferno.
E pensar disse o anjo que estas almas são irmãs de Cristo, são outros Cristos.
E pensar que, no Céu, as almas dos Sacerdotes são mais reverenciadas do que
Nossa Senhora, a Mãe do próprio Deus. E pensar que no Céu, os Sacerdotes vivem
juntos de Deus, gozando de sua mesma glória, porque a eles foi confiada a
continuação da grande obra da redenção do gênero humano. Aqui estão eles, os
Sacerdotes que se condenaram!...
De repente, um descomunal demônio, perto de mim, tocou uma trombeta.
Vejamos o que vai Lúcifer dizer observou o anjo. Deve ser alguma ordem que vai
dar.
Ao escutarem o som daquela estridente trombeta, que retumbou em todo o Inferno,
milhares de demônios ali se apresentaram, dentro de poucos instantes e,
conforme predissera o meu protetor, ouvimos o demônio chefe daquele bando, dar
as seguintes instruções:
Soube a potestade máxima que comanda a todos os demônios do Inferno que há, na
Terra, um menino de doze anos, que será santo, se continuar no caminho em que
vai. Não poderemos mais conceder nenhum triunfo desta natureza a este... (e aquele
demônio não pronunciou o nome de Deus, mas todos entenderam, com um urro
apavorante que rolou pelo espaço sem fim do Inferno). Temos de conquistar
aquela alma continuou Satanás para nós, para Lúcifer, para nosso fogo! (Nesta
hora, ouviu-se uma risada frenética, traduzindo a satisfação infernal daqueles
diabos). Nosso trabalho prosseguiu o demônio será o de fazer aquele menino
comprar muitas revistas maliciosas, ir a todas as sessões de cinemas, assistir
a todas as novelas de televisão, ver todos os programas, arranjar amizades com
elementos que já são nossos. Ele deverá desobedecer, muitas vezes, à sua mãe,
fugir de casa e andar pelas ruas aprendendo o que ainda não sabe. Temos que
fazer, também, um servicinho junto à sua mãe que é muito piedosa. Ela deverá
arranjar festas para freqüentar, a fim de deixar o garoto mais à vontade. Temos
que empregar todos os meios para que este menino se perca, pois está escrito
que deverá morrer brevemente, por causa de uma operação a que se vai submeter,
dentro de poucos dias. (Nova risada histérica estrondou por todo o Inferno!).
Aquele menino deve perder-se disse o demônio esta será a nossa mais importante
conquista. Ordeno, em nome de Lúcifer, que saiam todos vocês (e eram milhares
os que ali estavam) para a Terra, imediatamente. Onde houver, naquela rua, um
menino do nosso bando, procurem fazê-lo amigo do que queremos para nós,
empregando para isso, todos os meios. Vejam que a melhor maneira de arrancá-lo
de sua casa, será fazer com que alguém lhe dê uma bola, a fim de que ele se
junte aos meninos de sua rua, que já são nossos, para jogar futebol, onde eles
aprendem toda sorte de palavrões e imoralidades. Lá é que deverão ficar vocês,
no meio destes meninos de rua, soltos, sem mães, isto é, cujas mães também são
nossas, para que se perca esta presa do nosso inimigo comum... (Novo estrondo,
com faíscas e trovões!).
Neste ponto, acordei, graças a Deus.
Sentei-me, rapidamente na cama. Já era de manhãzinha, e o sol ia nascendo.
Estava tonto de agonia, apavorado com o sonho, verdadeiro pesadelo. Ajoelhei-me
e rezei. Rezei muito a Deus, uma oração que somente eu sei rezar, pedindo-lhe,
por tudo, para livrar-me destes pesadelos.
Depois, à proporção que ia acalmando, lembrei-me que deveria rezar uma Missa e
deveria ser a deste dia mesmo pela intenção daquele menino, que eu não sabia
quem era, mas Deus bem o sabia. Celebraria Missa por aquela criança e pela sua
mãe, pedindo a Deus que lhes dessem forças para não sucumbirem às tentações dos
milhares de demônios que tinham partido do Inferno, para tentá-los aqui na
Terra.
E fui celebrar a minha Missa.
Quando cheguei à sacristia, uma senhora, muito minha amiga, aproximou-se de mim
e disse:
Padre, hoje é o aniversário de meu filho, Roberto, seu aluno. Vim perguntar-lhe
se não seria possível o Sr. celebrar essa Missa por ele. Está precisando muito
de orações. Ultimamente, tem me desobedecido várias vezes. Arranjou umas
amizades em minha rua, com as quais não estou satisfeita. Inventou um futebol,
na esquina, juntando-se a uma meia dúzia de garotos muitos sabidos e tenho
notado grande transformação nele, nestes últimos tempos. Na semana passada,
começou a sentir umas dores na perna direita. Levei-o ao médico que constatou
uma hérnia, já adiantada. Tem que se operar. Vou aguardar férias, já falei com
o operador. Hoje é o aniversário dele. O Sr. pode celebrar Missa em sua
intenção?
E eu, olhar meditativo, vago, impressionado, abri os lábios e balbuciei:
Pois não... minha senhora... Vou celebrar por ele...
E vendo a minha confusão, minhas palavras entrecortadas, perguntou a senhora:
Padre, o Sr. está doente?
Ao que respondi:
Estou, minha senhora. Estou adoentado... Mas, fique tranqüila que rezarei Missa
pelo seu filho, por meu aluno Roberto, e ele voltará a ser o que sempre foi: um
filho piedoso, obediente e santo!
Comentário: O Inferno
A Sagrada Escritura fala da realidade do Inferno. Nosso Senhor Jesus Cristo
falou mais sobre o Inferno do que do Céu.
É dogma de fé de nossa Santa Igreja que as almas dos que morrem em estado de
pecado mortal vão para o Inferno.
O Inferno é um lugar em estado de eterna desgraça em que se acham as almas dos
réprobos, isto é, condenados.
A Sagrada Escritura é rica em passagem sobre o Inferno. Segundo Daniel 12, 2 os
ímpios ressuscitarão para eterna vergonha e opróbrio. Leia-se ainda Judite 16,
17 e compare com Isaías 66, 24. Também trata dessa terrível verdade, o Inferno,
o livro de Sabedoria 4, 19 conforme 3, 10; 6,5ss.
Nosso Senhor ameaça aos fariseus com o castigo do Inferno (Mateus 5, 22.29-30;
10, 28; 18, 9; 23, 15.33: Marcos 9, 43.45-47). Nosso Senhor afirma clara e
categoricamente que o Inferno é suplício eterno, fogo eterno, fogo
inextinguível. (Mateus 25, 41; 3,12; Marcos 9, 43; Mateus 13, 42.50; Mateus 25,
46). Lugar de trevas (Mateus 8, 12; 22, 13; 25, 30). Lugar de choro e ranger de
dentes (Mateus 13, 42.50; 24, 51; Lucas 13, 28). São Paulo dá o seguinte
testemunho: “Esses (os que não conhecem a Deus e nem obedecem ao Evangelho)
serão castigados à eterna ruína, longe da face do Senhor e da glória do Seu
poder (II Tessalonicenses 1, 8-9, conforme Romanos 2, 6-9; Hebreus 10, 26-31).
Segundo Apocalipse 21, 8 os ímpios terão sua parte no tanque que arde com fogo
e enxofre e ali serão atormentados dia e noite pelos séculos dos séculos
(Apocalipse 20, 10 conforme II Pedro 2, 4-6 e Judas 7).
Dão testemunho unânime da realidade do Inferno, os Pais da Igreja (discípulos
dos apóstolos e sucessores) e mencionamos apenas o santo mártir Inácio de
Antioquia, segundo sucessor de São Pedro em Antioquia que assim escreveu: “Todo
aquele que por sua péssima doutrina corromper a fé de Deus pela qual foi
crucificado Jesus Cristo, irá para o fogo inextinguível e a todos os que lhe
escutam”. Que palavras terríveis, que destino terrível, para os heréticos e
apostatas que negam a doutrina católica, que deixam a verdadeira e única
religião: a Católica. Que destino terrível para aqueles que, negando a única e
verdadeira Igreja: a Católica, cometem a loucura de fundar uma nova “igreja”
para substituir a instituída por Nosso Senhor. Santo Inácio diz: para os
heréticos, apóstatas e os que a eles seguem. Procuremos ouvir os sábios
conselhos de São Judas (Judas 17-24).
Não
nos esqueçamos que é dogma de fé que o Inferno dura por toda a eternidade. A
palavras grega aionios, que traduz “aquilo que não tem fim” referindo-se a
eternidade do Inferno é a mesma empregada para falar da vida eterna (João 3,
16), para falar da eternidade de Deus (Romanos 16, 26). Intencionalmente Deus
usou essa mesma palavra para falar do Inferno (Apocalipse 14, 11).
Aionios não tem duplo significado. Se ela nos revela que Deus é eterno e que a
vida que recebemos, se perseverarmos na fé católica, é eterna, então deve
significar que o Inferno também é eterno.
Por que existem pessoas que não crêem na existência do Inferno? A negação dessa
verdade não é um problema intelectual e sim moral. Na verdade são pessoas que
não querem mudar de vida. Querem viver escravizadas pelos pecados da carne e
depois irem para o Céu. Já dizia Charles Baudelaire: “A mais bela astúcia do
diabo está no fato de persuadir-nos de que ele, o diabo, não existe” e
conseqüentemente também o Inferno não existe.
Fala-se tão pouco sobre o diabo, sobre o Inferno, sobre a morte. São os falsos
profetas que têm medo de falar nessas coisas e vivem, não segundo a Palavra de
Deus, mas sim com as idéias colocadas pela mentalidade dominante.
Nosso Senhor, repetimos, falou mais sobre o Inferno do que sobre o Céu, a
Eucaristia, a Virgem Maria, porque Ele, que é Todo Amor, quer que os homens
tomem conhecimento do terrível destino em que podem cair com a sua recusa do
amor de Deus e a graça salvadora que lhes é oferecida.
É bom esclarecer que as descrições que a Bíblia faz do Inferno são apenas
indício e pálida sombra da realidade.
A nossa imaginação é incapaz de retratar de qualquer maneira o horror do
Inferno. Toda descrição sobre o Inferno está muito longe da realidade. O
Inferno é infinitamente mais terrível do que nos revela a Sagrada Escritura e
nos narra o sonho de Monsenhor Eymard.
Uma boa confissão, a participação piedosa às Missas dominicais, o amor aos
irmãos com as boas obras são sinais da verdadeira fé em Jesus Cristo. E é essa
verdadeira fé católica que nos salva do Inferno e nos leva para o Céu. Há dois
caminhos apenas que levam para a Eternidade: O Céu e o Inferno, qual deles o
leitor escolhe?
Se queres o Céu, arrependa-se dos seus pecados e procure hoje mesmo um piedoso
Sacerdote católico e faça uma boa confissão e nunca mais perca a Santa Missa
aos domingos – Dia do Senhor.
Se o leitor se recusa a crer na realidade do Inferno, só me resta lembrar-lhe
as palavras de Jesus:
“Louco, esta noite te pedirão a tua alma...” (Lucas 12, 20). Diácono
Francisco Almeida Araújo
ORAÇÃO
Ó meu bom Deus! Que sois todo amor, eu vos dou graças pelo dom da fé, vos dou
graças por Sua Santa Igreja, vos dou graças por ser católico, vos dou graças
pela esperança do Céu, vos dou graças pela Escola de Amor que é o Purgatório
para nos preparar melhor para as delícias do Céu e vos peço, tende misericórdia
dos pecadores e concedei à Tua Igreja um profundo amor às almas para que
testemunhem o Seu Evangelho com a palavra e a vida! Amém!
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