Michele
Kozal nasceu em 1893, na diocese de Poznan, na Polônia, de uma família
pobre. Com muitos sacrifícios, conseguiu cursar as escolas superiores em
1905. Aqui se tornou presidente de uma associação clandestina católica
que se opunha às tentativas de germanizar as escolas (a influência
prussiana era muito forte naquela região).
Em
1914, entrou no Seminário ‘Leonium’ de Poznan, mas só pôde ser ordenado
ao final da Grande Guerra, na Catedral de Gniezno (onde terminou o
seminário), aos 23 de fevereiro de 1918. O cardeal Edmundo Dalbor,
Arcebispo de Gniezno, o nomeou, em 29 de setembro de 1922, prefeito do
ginásio católico humanístico feminino de Bydgoszcz e, em 1927, diretor
espiritual do Seminário Maior de Gniezno. A sua obra sacerdotal e de
direção espiritual foram tão profícuas que, em 25 de setembro de 1929,
foi nomeado reitor do Seminário, apesar de, entre todos os docentes, ser
o único a não possuir os graus acadêmicos; ele também foi vice-pároco
de várias paroquias. Em 12 de junho de 1939 o Papa Pio XII o nomeou
Bispo auxiliar de Włocławek (foi consagrado na catedral da cidade em 13
de agosto de 1939) e titular de Lappa.
Em
1º de setembro. Os nazistas invadiram a Polônia e começou a Segunda
Guerra Mundial. Após duas semanas, chegavam a Włocławek. Mons. Kozal se
tornou ponto de referência e de conforto para a gente apavorada de
Włocławek e apesar dos incessantes convites das autoridades polonesas de
afastar-se da cidade, ele tenazmente quis permanecer com seu povo e
administrar a diocese depois da saída, no dia 6 de setembro, do bispo
titular, Mons. Karol Mieczysław Radoński (Bispo de Włocławek de 1928 a 1951).
Seu trabalho pastoral durou, ao todo, apenas 22 meses; os alemães, que
entraram na cidade em 14 de setembro, começaram um sistemático
desmantelamento da atividade eclesial; as publicações católicas foram
suprimidas, os edifícios eclesiásticos sequestrados, as igrejas fechadas
e os religiosos presos. Diante do horror desencadeado pelos nazistas,
Kozal protestou energicamente, mas inutilmente, junto às autoridades de
ocupação, pelos abusos feitos à Igreja. Isso provocou a ordem de
apresentar-se à Gestapo; entre outros, foi-lhe pedido que fizesse as
homilias em alemão, mas ele se recusou e, já prevendo sua prisão
próxima, mandou preparar uma maleta com o indispensável. Ele foi preso
no dia 7 de novembro, levado à cadeia onde ficou em isolamento e
submetido às sevícias dos guardas.
Em
16 de janeiro de 1940, foi transferido, com outros sacerdotes e
seminaristas, para o Instituto dos Salesianos de Ląd, em prisão
domiciliar, de onde pôde secretamente manter contatos com a diocese e
reorganizar o Seminário. De suas janelas, pôde ver a multidão de
deportados; por isso, não fazia ilusões sobre sua sorte, pelo contrário,
decidiu oferecer a sua vida a Deus pela salvação da Igreja e de sua amada Polônia.
Enquanto outros eclesiásticos eram deportados para os diferentes campos
de concentração, Mons. Kozal foi deixado em Ląd, com sete sacerdotes e
um diácono.
A
Santa Sé, esperando beneficiá-lo, lhe fez chegar a nomeação como
administrador de Lublin, mas, apesar dos esforços da Santa Sé, em 3 de
abril de 1941 todos eles foram enviados para o campo de concentração de
Inowroclaw, onde o Bispo teve lesões nas pernas e no ouvido esquerdo,
por causa das torturas que lhe infligiram os nazistas.
Em
25 de abril de 1941, acontecia o último transferimento até o famigerado
campo de Dachau, onde a mão sobre os sacerdotes católicos era
particularmente pesada. Ao Bispo foi dado o número de identidade 24544;
às sevícias diárias que sofriam, em particular os sacerdotes católicos,
se juntou uma epidemia de tifo, que atingiu uma grande número de
deportados. Kozal adoeceu de tifo e, em 25 de janeiro de 1943, junto com
o primo, padre Ceslao Kozal, foi levado à tenda dos doentes, denominada
“Revier”. No dia seguinte foi visitado pelos médicos, cujo chefe lhe
deu uma injeção no braço direito e, após alguns minutos, Kozal expirou. O
Bispo foi “terminado” com uma injeção letal de fenol.
O testemunho do primo foi determinante, porque ele ouviu saindo do
grupo de médicos a frase: “Agora, lhe será mais fácil a via da
eternidade”.
Era
o dia 26 de janeiro. Outras fontes relatam que Kozal morreu de fome
porque compartilhava suas rações com outros presos, ele era conhecido
por sua fé cristã e seu sacrifício. O atestado de óbito do médico do
campo certificou: "morreu de tifo". Os detentos pediram o corpo para
levá-lo ao cemitério para enterrá-lo, mas o comandante do campo estava
sob pressão de Berlim e, em 30 de Janeiro, mandou cremar o corpo no
crematório do campo. O pedido da família para entregar a urna e os
pertences pessoais do Bispo foi rejeitado.
Bem conhecendo a ligação entre o Catolicismo e o espírito nacional nos poloneses,
a invasão nazista não podia deixar de golpear os pastores para melhor
dispersar o rebanho. Todos os que fora próximos de Kozal e os
companheiros de desventura testemunharam sua santidade, demonstrada até o
último momento. Sem gestos heroicos e frases históricas para deixar aos
pósteros.
Foi
um santo também em relação a seus opressores e assassino, pobre
executores materiais de ordens estupidas, mais ou menos coniventes, mais
ou menos convencidos da bondade da ideia que, a mão armada,
representava, todos acomunados pela mesma ignorância desesperada de Deus
e do que é o bem e o mal.
Hoje, uma lapide monumental colocada na Catedral de Włocławek em 1954 recorda
o martírio silencioso de Michele Kozal, como também dos outros 220
sacerdotes da diocese “terminados” em Dachau, e mínima parte de um
Holocausto Católico que, ao que parece, é de bom gosto não lembrar.
Os
detentos e testemunhas do martírio de Mons. Kozal pediram, após a
liberação do campo de concentração de Dachau, para iniciar a
canonização, mas só tiveram sucesso em 1957. A beatificação se deu em 14
de janeiro de 1987, em Varsóvia. Segundo a Wikipédia alemã, a festa é
no dia 14 de junho. Ele é padroeiro da diocese polonesa e da cidade de
Włocławek, do Seminário de Bydgoszcz, Primaz do Seminário de Gniezno,
co-padroeiro da Diocese de Bydgoszcz (desde 2004), e padroeiro de muitas
igrejas na Polônia.
Desagradáveis
aos pretensos progressistas de esquerda e a certos revisionistas de
direita, os mortos católicos (e mortos porque tais) dos lagers nazistas
não possuem uma cinematografia que os celebre nem fotografias para
pendurar nas escolas “para não esquecer”.
A memória do Mons. Kozal é no dia 26 de janeiro. Foi beatificado em Varsóvia, em 14 de junho de 1987, por João Paulo II, que fixou a memória em 14 de junho, talvez para não “atrapalhar” o Dia da Memória, que deve permanecer estritamente judeu.
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