Milagre o Testemunho da Verdade

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Os primeiros cristãos professavam a teoria da reencarnação




A MENTIRA: “Os primeiros cristãos professavam a teoria da reencarnação. Foi somente em 533, num sínodo de Constantinopla, que a Igreja imprudentemente a condenou, introduzindo a idéia do inferno.”


Que houve propriamente nesse concílio de Constantinopla?

Em resposta, analisaremos primeiramente a doutrina das antigas fontes do Cristianismo no tocante à reencarnação; a seguir, deter-nos-emos sobre o citado sínodo de Constantinopla.

I. Antigos documentos cristãos e reencarnação

1. Sagrada Escritura:

Nem o Velho nem o Novo Testamento dão testemunho que de algum modo insinue a doutrina da reencarnação. Ao contrário, a Escritura professa categoricamente uma só existência do homem sobre a terra, após a qual cada um é definitivamente julgado: «Foi estabelecido, para os homens, morrer uma só vez; depois do que, há o julgamento» (Hebr 9,27). Ao bom ladrão arrependido dizia Jesus: «Hoje mesmo estarás comigo no paraíso» (Lc 23,43).



ATENÇÃO !!!Os principais textos bíblicos concernentes a este assunto ( Ressurreição x Re-encarnação (Mt 11,14; 17,12; Jo 1,21; 3,3; 9,1-3) já foram considerados em «P.R.» 3/1957, qu. 8.

Dispensamo-nos, pois, de os analisar novamente aqui, e passamos ao testemunho dos antigos escritores cristãos:

2. Os Padres da Igreja:

Os adeptos da reencarnação não raro proferem afirmações como a seguinte:

«A Igreja primitiva não repele absolutamente o ensino reencarnacionista. Os primeiros padres e, entre eles, S. Clemente de Alexandria, S. Jeronimo e Rufino, afirmam que ele era ensinado como verdade tradicional a um certo número de iniciados» (Campos-Vergal, Reencarnação ou Pluralidade das Existências. S. Paulo 1936, 41).

Contudo os autores desta e de semelhantes proposições não tratam de as comprovar citando os textos sobre os quais se apoiam; é o que tira a autoridade a tais assertivas.

Quem, ao contrário, investiga diretamente as obras dos antigos escritores da Igreja, chega a conclusão bem diferente da do trecho acima transcrito.

Percorramos, portanto, os escritos dos principais Padres citados pelos reencarnacionistas modernos:

1)- S. Ireneu († 202) rejeitava explicitamente a tese da reen¬carnação, lembrando que em nossa memória não nos fica ves¬tígio algum de existências anteriores; de outro lado, advertia, a fé cristã ensina a ressurreição da carne, a qual é incompatível com a reencarnação das almas em novos corpos (cf. Adv. haer. II 33).

2)- Tertuliano († 220), usando do seu estilo mordaz, opunha-se ao reencarnacionismo em famosa passagem («De anima» 28-35), que assim se pode resumir:

3)- Pitágoras, que afirma lembrar-se das suas anteriores existências, é vergonhosamente mentiroso: asseverava, por exemplo, ter tomado parte na guerra de Troia; como explicar então que, depois, se tenha mostrado tão pouco valente? Pois, fugindo da guerra, não veio ele à Itália? E, se em vida anterior foi, segundo afirmava, o pescador Pirro, como se lhe justificará a aversão pelo peixe? (Sabe-se que Pitágoras nunca comia peixe). E Empédocles? Não pretendeu ser peixe numa existência anterior? Deve ser por isso que se atirou na cratera de um vulcão: com certeza quis ser frito. É tão absurda a migração das almas para corpos de animais que nem os próprios herejes ousaram de¬fendê-la. – Tertuliano afirmava outrossim que a reencarnação contra¬ria a noção de justiça de Deus, a qual exige que a punição afete o próprio corpo que cometeu o pecado, e não algum outro.

4)- Clemente de Alexandria († 215) tinha a doutrina da reen¬carnação na conta de arbitrária, pois nem as reminiscências nô-la atestam nem a fé cristã.


«Se tivéssemos existido antes de vir a este mundo, deveríamos agora saber onde estávamos, assim como o modo e o motivo pelos quais viemos a este mundo» (Eclogae XVII). Clemente notava que nunca a Igreja professara tal doutrina, a qual só fôra sustentada por conventículos de herejes ditos «gnósticos» (Basilidianos e Marcionitas).


5)- São Gregório de Nissa († 394) é explicitamente citado pelos reencarnacionistas como adepto de sua doutrina. Quem, porém, examina os escritos deste autor, verifica que Gregôrio considera a reencarnação como fábula injuriosa à dignidade hu¬mana, pois não hesita em atribuir ao homem, ao animal irracional (ave, peixe, rã…) e à planta o mesmo princípio vital (cf. «De hominis opificio» 28).

Se, não obstante, os reencarnacionistas modernos apelam para a autoridade de S. Gregório de Nissa, isto se deve ao fato de que em alguns pontos foi discípulo de Orígenes (do qual falaremos no § 2 desta resposta).

6)- São Jerônimo († 421) é por vezes nominalmente citado em favor da reencarnação. Contudo seria difícil ou impossível justificar essa «procura de patrocínio» em S. Jerônimo, pois o S. Doutor se pronunciou diretamente contrário à teoria, e isto, precisamente ao comentar o texto (muito caro aos reencarnacionistas) de Mt 11, 14, em que São João Batista é designado como Elias:


«João é chamado Elias, observa S. Jerônimo, não segundo a mentalidade de tolos filósofos e de alguns herejes, que introduzem a doutrina da metempsicose, mas pelo fato de ter ele vindo cheio da fôrça e do zelo de Elias, como atesta outra passagem do Evangelho» (cf. Lc 1,17).


7)- Sto. Agostinho († 430) é tido por Allan Kardec como um dos maiores divulgadores do espiritismo, pois, conforme o Codificador, terá sido adepto da reencarnação.
Na verdade, Sto. Agostinho, no livro X c. 30 «De civitate Dei», mostra conhecer as doutrinas reencarnacionistas de Platão, Plotino e Porfirio, que ele assim comenta:


«Se julgamos ser indigno corrigir o pensamento de Platão, por que então Porfirio modificou a sua doutrina em mais de um ponto, e em pontos que não são de pequenas conseqüências? É certíssimo que Platão ensinou que as almas dos homens retornam até mesmo para animar corpos de animais. Esta opinião foi também adotada por Plotino, mestre de Porfirio. Mas não lhe agradou, e com muita razão. É verdade que Porfirio admitiu que as almas entram em sempre novos corpos: ele, de um lado, sentia vergonha em admitir que sua mãe pudesse algum dia carregar às costas o filho, se lhe acontecesse reencarnar-se no corpo de uma mula; mas, de outro lado, não tinha vergonha em acreditar que a mãe pudesse transformar-se numa jovem e desposar o seu próprio filho! Oh, quanto mais nobre é a fé que os santos e verazes anjos ensinaram, fé que os Profetas dirigidos pelo Espírito de Deus anunciaram, … fé que os Apóstolos apregoaram por todo o orbe!Quanto mais nobre é crer que as almas voltam uma só vez aos seus próprios corpos (no momento da ressurreição final) do que admitir que elas tomem tantas vezes sempre novos corpos!» (De civitate Dei X 30).

Considerações análogas se poderiam multiplicar caso se quisesse continuar a percorrer a antiga literatura cristã. Isto escaparia, porém, ao intento do presente artigo.

Os dizeres de Sto. Agostinho, fazendo eco à sentença de escritores mais antigos, principalmente dos mais evocados pelos reencarnacionistas, já bastam para mostrar que vão seria procurar nos Padres da Igreja tutela e autoridade para a doutrina da reencarnação.

Quem, com sinceridade, observa a documentação patrística, é levado a concluir que na realidade a Igreja antiga, longe de ensinar a reencarnação, se lhe opôs abertamente.



Eis, porém, que a história registra o caso de Orígenes, do Origenismo e do Concilio de Constantinopla (543), caso assaz controvertido, ao qual devemos agora voltar a nossa atenção:



II. Orígenes, Origenismo e Constantinopla

É o nome de Orígenes que por excelência dá ocasião a que alguns escritores modernos asseverem, terem os antigos cristãos admitido a doutrina da reencarnação, prosseguindo destarte uma tradição pré-cristã. Será preciso, portanto, considerar antes do mais:
1. Quem era Orígenes?

Orígenes (185-254) foi mestre de famosa Escola Catequética ou Teológica de Alexandria (Egito) numa época em que os autores cristãos começavam a confrontar a revelação do Evangelho com as teses da sabedoria humana anterior a Cristo.

As fórmulas oficiais de fé da Igreja  não eram então muito definidas; a teologia (ou seja, a penetração lógica e sistemática das proposições reveladas) ainda estava em seus primórdios; em conse¬qüência, ficava margem assaz ampla para que o estudioso arquitetasse teorias e propusesse sentenças destinadas a elucidar, na medida do possível, os artigos da fé.

Orígenes entregou-se a tal tarefa, servindo-se da filosofia de seu tempo e, em particular, da filosofia platônica.


Ao realizar isso, o mestre fazia questão de distinguir explicitamente entre proposições dogmáticas, pertencentes ao patrimônio da fé e da Igreja, e proposições hipotéticas, que ele formulava em seu nome pessoal, à guisa de sugestões, para penetrar o sentido das verdades dogmáticas; além disto, professava submissão ao magistério da Igreja caso esta rejeitasse alguma das suas teses.

Ora, entre as suas proposições pessoais, Orígenes formulou algumas que de fato vieram a ser repudiadas pelo magistério eclesiástico:

Assim, inspirando-se no platonismo, derivava a palavra grega «psyché» (alma) de «psychos» (frio), e admitia que as almas humanas, unidas à matéria tais como elas atualmente se acham, são o produto de um resfriamento do fervor de espíritos que Deus criou todos iguais e destinados a viver fora do corpo; a encarnação das almas, portanto, e a criação do mundo material dever-se-iam a um abuso da liberdade ou a um pecado dos espíritos primitivos, que Deus terá punido ligando tais espíritos à matéria. Banidos do céu e encarcerados no corpo, estes sofrem aqui a justa sanção e se vão purificando a fim de voltar a Deus; após a vida presente, alguns ainda precisarão de ser purificados pelo fogo em sua existência póstuma, mas na etapa final da história todos serão salvos e recuperarão o seu lugar junto a Deus; o mundo visível terá então preenchido o seu papel e será aniquilado.

Note-se bem: o alexandrino propunha tais idéias como hipóteses, e hipóteses sobre as quais a Igreja não se tinha pronunciado (justamente porque pronunciamentos sobre tais assuntos ainda não haviam sido necessários).

Não havia, pois, da parte de Orígenes a intenção de se afastar do ensinamento comum da Igreja a fim de constituir uma escola teológica própria ou uma heresia («heresia» implica em obsti¬nação consciente contra o magistério da Igreja).



2. A desgraça de Orígenes, porém, foi ter tido muitos discípulos e admiradores.Estes atribuíram valor dogmático às proposições do mestre, mesmo depois que o magistério da Igreja as declarou contrárias aos ensinamentos da fé.

Ê preciso observar outrossim o seguinte:

O  mestre alexandrino admitiu como possível a preexistência das almas humanas.


Ora esta não implica necesariamente em reencarnação; significa apenas que, antes de se unir ao corpo, a alma humana viveu algum tempo fora da matéria; encarnou-se depois,dai não se segue que se deva encarnar mais de uma vez (o que seria a reencarnação propriamente dita).

Aliás, Orígenes se pronunciou diretamente contrário à doutrina da reencarnação:

Com efeito,em certa passagem de suas obras, considera a teoria do gnóstico Basílides, o qual queria basear a reencarnação nas palavras de S. Paulo: «Vivi outrora sem lei…» (Rom 7,9).

Observa então Orígenes:

Basilides não percebeu que a palavra «outrora» não se refere a uma vida anterior de S. Paulo, mas apenas a um período anterior da existência terrestre que o Apóstolo estava vivendo; assim, concluía o alexandrino, «Basílides rebaixou a doutrina do Apóstolo ao plano das fábulas ineptas e ímpias» (cf. In Rom VII).


Contudo os discípulos de Orígenes professaram como verdade de fé não somente a preexistência das almas (Como mera teoria insinuada por Orígenes), mas também a reencarnação (que o alexandrino não chegou de modo nenhum a propor, nem como hipótese).

Os principais defensores destas idéias, os chamados «origenistas», foram monges que viveram no Egito, na Palestina e na Síria nos séc. IV - VI.

Esses monges, como se compreende, levando vida muito retirada, entregue ao trabalho manual e à oração, eram pouco versados no estudo e na teologia; admiravam Orígenes principalmente por causa dos seus escritos de ascética e mística, disciplinas em que o alexandrino mostrou realmente ter autoridade).

Não tendo, porém estes monges cabedal para distinguir entre proposições categóricas e meras hipóteses do mestre, os origenistas professavam cegamente como dogma tudo que liam nos escritos de Orígenes; pode-se mesmo dizer que eram tanto mais fanáticos e buliçosos quanto mais simples e ignorantes.

A tese da reencarnacão, desde que começou a ser sustentada pelos origenistas, encontrou decididos oponentes entre os escritores cristãos mesmos, que a tinham como contrária à fé.

Um dos testemunhos mais claros é o de Enéias de Gaza († 518), autor do «Diálogo sobre a imortalidade da alma e a ressurreição», em que se lê o seguinte raciocinio:



«Quando castigo meu filho ou meu servo, antes de lhe infligir a punição, repito-lhe várias vezes o motivo pelo qual o castigo, e recomendo-lhe que não o esqueça para que não recaia na mesma falta. Sendo assim, Deus, que estipula as correções , não haveria de esclarecer os culpados a respeito do motivo pelo qual Ele os castiga? Haveria de lhes subtrair a recordação de suas faltas, dando-lhes ao mesmo tempo a experimentar muito vivamente as suas penas? Para que serviria o castigo se não fosse acompanhado da recordação da culpa? Só contribuiria para irritar o réu e levá-lo à demência. Uma tal vitima não teria o direito de acusar o seu juiz por ser punida sem ter consciência de haver cometido alguma falta?» (ed. Migne gr. t. LXXXV 871).

Sem nos demorar sobre este e outros testemunhos anti-reencarnacionistas do séc. V, passamos imediatamente à fase culminante da luta origenista:

Na realidade, a corrente dos origenistas ou o origenismo na primeira metade do séc.VI provocou famosa celeuma teológica.

Como se terá desenrolado?

3. No início do séc. VI estava o origenismo muito em voga nos mosteiros da Palestina, tendo como principal centro de propagação o cenóbio dito da «Nova Laura», ao sul de Belém: aí gozavam de apreço as doutrinas referentes à preexistência das almas, à reencarnação e à restauração de todas as criaturas na ordem inicial ou na bem-aventurança celeste.

Em 531, o abade São Sabas, que, com seus 92 anos de idade, se opunha enérgicamente ao origenismo, foi a Constantinopla pedir a proteção do Imperador para a Palestina devastada pelos samaritanos, assim como a expulsão dos monges origenistas. Contudo alguns dos monges que o acompanhavam, sustentaram em Constantinopla opiniões origenistas; regressou à Palestina, para aí morrer aos 5 de de¬zembro de 532.


Após a morte de S. Sabas, a propaganda origenista recrudesceu, invadindo até mesmo o mosteiro do falecido abade (o cenóbio da «Grande Laura»); em conseqüência, o novo abade, Gelásio, expulsou do mosteiro quarenta monges.

Estes, unidos aos da Nova Laura, não hesitaram em tentar tomar de assalto a Grande Laura. Por essa época, os origenistas (pelo fato de combater uma famosa heresia cristológica dita «monofisitismo») gozavam de prestígio mesmo em Constantinopla, tendo sido dois dentre eles nomeados bispos: Teodoro Askidas, para a sede de Cesaréia na Capadócia; e Domiciano, para a de Ancira.

Com o passar do tempo, a controvérsia entre os monges da Palestina se tornava cada vez mais acesa, exigindo em breve a intervenção de instancia superior. Foi o que se deu em 539 num sínodo reunido em Gaza, o origenismo foi denunciado ao legado papal Pelágio.

Este voltou a Constantinopla na companhia de monges de Jerusalém encarregados pelo Patriarca desta cidade de pedir ao Imperador o seu pronunciamento contra o origenismo. A petição foi de fato transmitida, logrando o almejado êxito:

Justiniano, Imperador, comprazia-se em disputas teológicas; de bom grado, portanto, escreveu um tratado contra Orígenes, de tom extremamente violento, equiparando as sentenças do alexandrino aos erros dos pagãos, maniqueus e arianos.

Concluía com uma série de dez anátemas contra Orígenes, dos quais especial atenção merecem os seguintes:

«1. Se alguém disser ou julgar que as almas humanas existiam anteriormente, como espíritos ou poderes sagrados, os quais, desviando-se da visão de Deus, se deixaram arrastar ao mal e por este motivo perderam o amor a Deus, foram chamados almas e relegados para dentro de um corpo à guisa de punição, seja anátema.

5. Se alguém disser ou julgar que, por ocasião da ressurreição, os corpos humanos ressuscitarão em forma de esfera, sem semelhança com o corpo que atualmente temos, seja anátema.

9. Se alguém disser ou julgar que a pena dos demônios ou dos ímpios não será eterna, mas terá fim, e que se dará uma restauração («apokatástasis», reabilitação) dos demônios, seja anátema.»


Justiniano em 543 enviou o seu tratado com os anátemas ao Patriarca Menas de Constantinopla, a fim de que este também condenasse Orígenes e obtivesse dos bispos vizinhos e dos abades de mosteiros próximos igual pronunciamento.

Assim intimado, Menas reuniu logo o chamado «sínodo permanente» (conselho episcopal) de Constantinopla, o qual, por sua vez, redigiu e promulgou quinze anátemas contra Orígenes, dos quais os quatro primeiros nos interessam de perto:


«1. Se alguém crer na fabulosa preexistência das almas e na repudiável reabilitação das mesmas (que é geralmente associada àquela), seja anátema.

2. Se alguém disser que os espíritos racionais foram todos criados independentemente da matéria e alheios ao corpo, e que vários deles rejeitaram a visão de Deus, entregando-se a atos ilícitos, cada qual seguindo suas más inclinações, de modo que foram unidos a corpos, uns mais, outros menos perfeitos, seja anátema.

3. Se alguém disser que o sol, a lua e as estrelas pertencem ao conjunto dos sêres racionais e que se tornaram o que eles hoje são por se terem voltado para o mal, seja anátema.

4. Se alguém disser que os seres racionais nos quais o amor a Deus se arrefeceu, se ocultaram dentro de corpos grosseiros como são os nossos, e foram em conseqüência chamados homens, ao passo que aqueles que atingiram o último grau do mal tiveram como partilha corpos frios e tenebrosos, tornando-se o que chamamos demônios e espíritos maus, seja anátema».

O papa Vigílio e os demais Patriarcas deram a sua aprovação a esses anátemas.

A MENTIRA ESPÍRITA CAINDO POR TERRA:

Como se vê, tal condenação foi promulgada por um sínodo local de Constantinopla reunido em 543, e não, como se costuma dizer, pelo II concílio ecumênico de Constantinopla, o qual só se realizou em 553.


Neste concílio ecumênico, a questão da preexistência e da sorte póstuma das almas humanas não voltou à baila; verdade é que Orígenes aí foi condenado juntamente com alguns herejes por causa de erros cristológicos (cf. anátema XI proferido pelo mencionado concílio ecumênico).

Os historiadores recentes rejeitam a opinião de autores mais antigos segundo os quais o II concílio ecumênico de Constantinopla se teria ocupado com a doutrina origenística concernente à preexistência das almas.

Em todo e qualquer caso, não houve condenação de Orígenes em 533, como afirmam certos escritores reencarnacionistas modernos, os quais por sua pouca meticulosidade se mostram destituidos de autoridade para tratar do assunto.

4. Na verdade, a doutrina da reencarnação deve ser tida como positivamente condenada pela Igreja não somente na base dos testemunhos dos Padres anteriormente citados neste artigo (os quais representam o magistério ordinário da Igreja), mas principalmente por efeito das declarações explícitas do II concílio ecumênico de Lião (1274):

«As almas… são imediatamente recebidas no céu», e do concílio ecumênico de Florença (1439): «As almas… passam imediatamente para o inferno a fim de aí receber a punição» (Denzinger, Enchiridion 464. 693).

Quanto à doutrina do inferno, ela está contida na Sagrada Escritura e sempre foi professada pelos cristãos; cf. «P. R.» 371957, qu. 5.

Errôneo, portanto, seria dizer que ela se deve a algum concilio do séc. VI

5. Em conclusão, observamos o seguinte:
a) a doutrina da reencarnação nunca foi comum, nem é primitiva, na Igreja Católica (atestam-no os depoimentos dos antigos escritores cristãos aqui citados);

b) após Orígenes (séc. III), ela foi professada por grupos particulares de monges orientais, pouco versados em Teologia, os quais se prevaleciam de afirmações daquele mestre alexandrino, exagerando-as (daí a designação de «origenistas»);

c) mesmo dentro da corrente origenista, a teoria da reencarnação não teve a voga que tiveram, por exemplo, as teses da preexistência das almas e da restauração de todas as criaturas na bem-aventurança inicial;

d) por isto as condenações proferidas por bispos e sínodos no séc. VI sobre o orígenísmo versaram explícitamente sobre as doutrinas da preexistência e da restauração das almas (o que naturalmente implica na condenação da própria tese da reencarnação, na medida em que esta tese depende daquelas doutrinas e era professada pelos orígenístas);

e) a doutrina da reencarnação foi rejeitada não somente pelo magistério ordinário da Igreja desde os tempos patrístícos, mas também pelo magistério extraordinário nos concílios ecuménicos de Lião II (1274) e de Florença (1439).

D. Estêvão Bettencourt O. S. B.

Fonte: Revista Pergunte e Responderemos, 051 – 1962

OS TEMAS PRINCIPAIS DE TODOS OS CONCÍLIOS UNIVERSAIS DA IGREJA:



1.º       Papa São Silvestre I          Niceia I          20 de Maio a 25 de Julho de 325:


Primeiro a reunir a Cristandade. Condena o Arianismo como heresia e exila Ário. Proclama a igualdade de natureza entre o Pai e o Filho. Redação do Símbolo ou Credo que se recita na missa.

2.º       Papa São Dâmaso I           - Constantinopla I - Maio a Julho de 381:

Afirma a natureza divina do Espírito Santo. Estabelece que o bispo de Constantinopla receberá as honras logo após o de Roma.

3.º       Papa São Celestino I         Éfeso 22 de Junho a 17 de Julho de 431:

Condena o Nestorianismo como heresia. Afirma a unidade pessoal de Cristo e a maternidade divina de Maria.
*A Igreja Assíria do Oriente não reconhece este concílio e nenhum dos posteriores.

4.º       Papa São Leão I, Magno  Calcedónia  8 de Outubro a 1 de Novembro de 451:

Condenação do monofisismo. Afirma a unidade das duas naturezas, completas e perfeitas em Jesus Cristo, humana e divina. É escrita a carta dogmática "Tomo a Flaviano" pelo Papa Leão I.
*As Igrejas não calcedonianas não reconhecem este concílio e nenhum dos posteriores.

5.º       Papa Vigílio  Constantinopla II   5 de Maio a 2 de Junho de 553:

Condena as heresias Cristológicas  de Orígenes e outros ensinos já condenados em outros concílios regionais. Condena os documentos nestorianos designados Os Três Capítulos.

6.º       Papa Santo Agatão           - Constantinopla III           7 de Novembro de 680 a 16 de Setembro de 681          

Dogmatiza as duas naturezas do Cristo. Condena o monotelismo.

7.º       Papa Adriano I        Niceia II         24 de Setembro a 23 de Outubro de 787:

Regula a questão da veneração de imagens (ícones). Condena os iconoclastas.


8.º       Papa Adriano II       Constantinopla IV  - 5 de Outubro de 869 a 28 de Fevereiro de 870:    

Condenação e deposição de Fócio, Patriarca de Constantinopla. Encerra temporariamente o primeiro Cisma Ocidental.

9.º       Papa Calisto II         Latrão I         18 de Março a 6 de Abril de 1123:

Encerra a Questão das investiduras. Independência da Igreja perante o poder temporal.

10.º     Papa Inocêncio II   Latrão II        Abril de 1139:
           
Torna obrigatório o celibato para o clero na Igreja Ocidental. Fim do cisma do Antipapa Anacleto II


11.º     Papa Alexandre III  - Latrão III     Março de 1179:      

Normas para a eleição do Papa (maioria de 2/3) e da nomeação de bispos (idade mínima de 30 anos). Excomungam-se os barões que, na França, apoiavam os Cátaros.


12.º     Papa Inocêncio III  Latrão IV       11 de Novembro a 30 de Novembro de 1215:          

Determina que todo o cristão, chegado ao uso da razão, é obrigado a receber a Confissão e a Eucaristia na Páscoa. Condenação dos Albigenses, Maniqueístas e Valdenses. Definição de transubstanciação.

13.º     Papa Inocêncio IV  Lião I  28 de Junho a 17 de Julho de 1245:

Deposição do Frederico II.

14.º     Papa Beato Gregório X    Lião II - 7 de Maio a 17 de Julho de 1274:

Tentativa de reconciliação com a Igreja Ortodoxa. Regulamentação do conclave para a eleição papal. Cruzada para libertar Jerusalém. Institui o conceito dogmático de Purgatório.

15.º     Papa Clemente V    Vienne           16 de Outubro de 1311 a 6 de Maio de 1312:

Supressão dos Templários. Discute-se a questão dos bordéis de Roma e a nomeação de um arcebispo em Pequim, na China.

16.º     Papa Gregório XII e Papa Martinho V   Constança   5 de Outubro de 1414 a 22 de Abril de 1418:


Extingue o Grande Cisma do Ocidente. Condenação de John Wycliffe e de Jan Hus.
Decreta a supremacia do concílio sobre o Papa (posteriormente ab-rogado pelo Concílio Vaticano I). Eleição do Papa Martinho V

17.º     Papa Eugênio IV     Basileia-Ferrara-Florença           1431-1432:  

Sanciona o cânon católico (relação oficial dos livros da Bíblia), tenta nova união com as Igrejas orientais ortodoxas. Reconhecimento no romano pontífice de poderes sobre a Igreja Universal. Ratifica o dogma  do Purgatório.

18.º     Papa Júlio II e Papa Leão X        Latrão V        10 de Maio de 1512 a 16 de Março de 1517: 

Condenação do concílio cismático de Pisa (1409-1411) e do conciliarismo. Reforma da Igreja.

19.º     Papa Paulo III, Papa Júlio III, Papa Marcelo II, Papa Paulo IV e Papa Pio IV - Trento   13 de Dezembro de 1545 a 4 de Dezembro de 1563:

Reforma geral da Igreja, sobretudo por causa do protestantismo. Confirmação da doutrina acerca dos sete sacramentos e dos dogmas eucarísticos. Decreta a versão da Vulgata como autêntica.

20.º     Beato Pio IX - Vaticano I  - 8 de Dezembro de 1869 a 18 de Julho de 1870:

Reforça a ortodoxia estabelecida no Concílio de Trento. Condena o Racionalismo, o Naturalismo e o Modernismo. Dogmas sobre o Primado do Papa e da infalibilidade papal na definição expressa de doutrinas de fé e de costumes.

21.º     Beato João XXIII e Papa Paulo VI          Vaticano II    11 de Outubro de 1962 a 8 de Dezembro de 1965: 

Abertura ao mundo moderno. Reforma da Liturgia. Constituição e pastoral da Igreja, Revelação divina, liberdade religiosa, novo ecumenismo (visto que o modo tradicional de ecumenismo é bem diferente, como mostra a Encíclica Mortalium Animos, de Pio XI), apostolado dos leigos.
Este Concílio gera muitas polêmicas, inclusive por não ser um Concílio dogmático.

Os ditos tradicionalistas dizem que o Concílio Vaticano II rompe de modo herético com a tradição bimilenar da Igreja: a Missa Tridentina e o Canto Gregoriano perdem importância; o modo como todos os sete sacramentos são celebrados sofreu também mudanças.

Fonte: Wikpedia


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.