INTRODUÇÃO
“Cristo
não é religião!” – Esta é a frase lançada muitas vezes na cara dos católicos que
se orgulham de pertencer à Igreja. Esta frase geralmente é dita incluindo uma
atitude inconsciente de ter atingido um nível espiritual mais elevado, e que o
pobre católico ainda não se deu conta desta “grande verdade”. Mas isto é
verdade? Para aprofundar, fiz este breve estudo.
Autor: José
Miguel Arráiz
Tradução: Carlos Martins
Nabeto
Uma ideologia
que vem progressivamente conquistando muitas igrejas cristãs não-católicas é uma
recente negação da religião. É surpreendente ouvi-los dizer: “Cristo não é
religião”, “Eu não pertenço a religião nenhuma; possuo uma relação pessoal e
verdadeira com Jesus Cristo” e outras frases semelhantes.
Recentemente,
conversava sobre isso por chat com uma amiga evangélica desta mesma
comunidade e ativei o registro automático da conversa. A seguir, um pequeno
extrato da mesma:
Kattvic: Você
é cristão?
José: Sim, sou cristão católico.
Kattvic - Será está? |
José: Sim, sou cristão católico.
José: E você?Kattvic: Ah, tá.
José: Mas quando você era católica não era convertida a Cristo?Kattvic: Bem, eu era católica, mas agora sou convertida a Cristo.
Kattvic: Sim, mas não era a mesma coisa. Quando alguém é católico esquece muitas coisas.José: Quando alguém é católico e não aprofunda sua fé, pode ser que esqueça muitas coisas. Mas quando se aprofunda e possui verdadeira relação com Cristo, isto não ocorre.
José Miguel Arráiz Kattvic: Bem, isso é verdade, mas também é verdade que, como católicos, não nos aprofundamos na relação com Cristo. É certo que isso não vale para todos, mas para a maioria.José: Em todas as igrejas existem crentes “nominais”, se é que podem ser chamados de “crentes”.Kattvic: Bem, eu não estou falando de religião, porque se assim fosse, eu não teria nenhuma. Meu amor para com o Todo-Poderoso supera a barreira das religiões.José: O que é religião para você?Kattvic: Bem, religião é quando você diz que possui uma e vai até a sua igreja rezar, cantar e tudo o mais; e quando você sai desse lugar, continua sendo o mesmo.José: Mas quem te disse que isso é religião? Já procurou o significado de religião no dicionário?Kattvic: Não, não procurei. Mas o digo por experiência pessoal.José: Isso não é coisa de experiência, é coisa de saber o que significa a palavra. Eu te pergunto: a Bíblia diz que a religião é coisa boa ou má? O que ela fala acerca da religião?Kattvic: Bem, eu não conheço muito a Bíblia pois ainda estou começando a lê-la… Eu não sei qual é a definição dos outros; a minha é pessoal. Assim eu sinto, assim eu creio.
O que me
chamou a atenção nesta conversa é que a moça possuía uma definição totalmente
sentimental da palavra “religião” e quando lhe pedi para que me argumentasse
racionalmente (pelo dicionário) ou biblicamente (por alguma passagem bíblica),
não soube me dizer o porquê da sua fé não poder ser conceituada como religião;
simplesmente concluiu com um profundo e contundente:
“Assim eu sinto, assim eu creio”… E PONTO!!!
Certamente,
ela era uma cristã com pouco conhecimento bíblico, mas o curioso é que esta
maneira de pensar pode ser vista em líderes e pastores evangélicos, o que me
surpreende por demais. Quando eu lhes peço para que me fundamentem biblicamente
tal afirmação, não encontro ninguém que me possa dar uma resposta
satisfatória.
Porém, esta
nova ideologia possui fundamento? O que diz o senso comum? O que diz a
Bíblia?
CONCEITO
DE RELIGIÃO
Para
encontrarmos o real significado da palavra “religião” devemos procurar na fonte
mais autorizada do mundo, no que se refere ao significado das palavras em
espanhol[*]: o dicionário da Real Academia Espanhola; e, depois, em outra
fonte para ser facilmente verificada por vocês, leitores.
O dicionário
da Real Academia Espanhola nos dá como significado principal e secundário da
palavra “religião” os seguintes:
Dicionário da Real Academia Espanhola: Religião [Do lat. religĭo, -ōnis] 1. Conjunto de crenças ou dogmas acerca da divindade, dos sentimentos de veneração e temor para com ela, das normas morais para a conduta individual e social, e das práticas rituais, principalmente a oração e o sacrifício para prestar-lhe culto. 2. Virtude que move a prestar a Deus o culto devido.
A enciclopédia
Microsoft Encarta diz:
Enciclopedia Microsoft Encarta, Religião: Em termos gerais, forma de vida ou crença baseada em uma relação essencial de uma pessoa com o universo, ou com um ou vários deuses. Neste sentido, sistemas tão diferentes como Budismo, Cristianismo, Hinduísmo, Judaísmo e Xintoísmo podem ser considerados religiões. No entanto, em um sentido aceito de uma forma corrente, o termo religião se refere à fé em uma ordem do mundo criado pela vontade divina, o acordo com o qual constitui o caminho de salvação de uma comunidade e, portanto, de cada um dos indivíduos que desempenhem um papel nessa comunidade. Neste sentido, o termo se aplica sobretudo a sistemas como Judaísmo, Cristianismo e Islamismo, que implicam fé em um credo, obediência a um código moral estabelecido nas Escrituras Sagradas e participação em um culto. Em seu sentido mais estrito, o termo alude ao sistema de vida de uma ordem monástica ou religiosa.
Resumindo: dos
significados que a Real Academia Espanhola e a Enciclopédia [Encarta] nos
oferece, podemos concluir que “religião” é a forma que cada pessoa possui de se
relacionar com Deus, prestando-lhe o culto que Lhe é devido.
Sob este
conceito, o Cristianismo é definitivamente uma religião. O mesmo dicionário da
Real Academia o define:
Dicionário da Real Academia Espanhola: Cristianismo 1. Religião cristã.
A enciclopédia
Encarta nos apresenta uma definição semelhante:
Enciclopédia Microsoft Encarta: Cristianismo: religião monoteísta baseada nos ensinamentos de Jesus Cristo segundo se recolhem nos Evangelhos, que marcou profundamente a cultura ocidental e é atualmente a maior do mundo. Está amplamente presente em todos os continentes do globo e é professada por mais de 1,7 bilhão de pessoas.
UNIVERSO IMAGINÁRIO |
Se você é
cristão, o Cristianismo é a SUA RELIGIÃO; quanto a isso, não resta
dúvida. Não importa que alguém não goste dessa palavra, que tenha desenvolvido
antipatia por ela. O significado não será alterado em todos os dicionários do
mundo apenas porque tal pessoa “sinta” ou “acredite” que [a sua fé] não é
“religião”.
Muitos poderão
querer dar à palavra o seu próprio significado, mas sua posição terá fundamento
para o senso comum?
A
RELIGIÃO SEGUNDO A BÍBLIA
Passemos agora
para o segundo ponto; vejamos o que diz a Palavra de Deus sobre “religião”, já
que se a posição de [alguns] irmãos [separados] faz sentido, deverá haver alguma
passagem bíblica apoiando tal posição. Será que há?
NÃO, não há!
Não há em toda a Bíblia nem uma só passagem que fale mal da religião, ainda que
seja só um pouquinho. Ao contrário, a palavra “religião”, “religioso”,
“religiosa” aparece 7 vezes e em nenhuma delas se pode verificar um significado
negativo; muito pelo contrário.
João 9,31 – “Sabemos que Deus não ouve os pecadores; mas, se alguém é religioso e cumpre a Sua vontade, será ouvido”.
A passagem
acima narra a forma como o cego refuta os fariseus que não explicavam como ele
pôde ter sido curado por Jesus. Quando os fariseus O insultam, ele lhes responde
com estas sábias palavras, para dar-lhes a entender que se Cristo o curou é
porque Deus O escutava; muito interessante, aliás, as palavras que
emprega: “se alguém é religioso e cumpre a Sua vontade, será
ouvido”.
O próprio
Paulo, quando foi perseguido pelos judeus, foi perseguido em razão da “sua
religião”, como nos ensina a Bíblia:
Atos 25,19 – “Apenas tinham contra ele algumas discussões acerca de sua própria religião e sobre um tal Jesus, já morto, o qual Paulo afirmava que vivia”.
Muitos
podem dizer que possuem religião, porém, Paulo não era cristão? E a Bíblia diz
que Paulo possuía religião! Se Paulo tinha religião e era perseguido em razão
dela, por que esses não têm religião?
Paulo posteriormente explica que ele havia sido
fariseu e alega que o Judaísmo era a “sua religião”:
Atos 26,5 – “Eles me conhecem há muito tempo e se quiserem podem testemunhar que tenho vivido como fariseu conforme a seita mais estrita da nossa religião”.
Importante
observar que ele não diz que essa já não é mais a sua religião. Notemos que
quando Paulo diz “nossa religião” implica que a considera “sua também”.
O Judaísmo era a verdadeira religião, mas agora alcançava sua plenitude com
Cristo. Paulo não trocou de Deus, mas O conheceu em plenitude através da
revelação de Jesus Cristo.
Uma das
passagens mais contundentes que menciona a palavra “religião” é a
seguinte:
Tiago 1,26-27 – “Se alguém se crê religioso mas não coloca freio em sua língua, engana seu próprio coração e sua religião é vã. A religião pura e intocável diante de Deus Pai é esta: visitar os órfãos e as viúvas em sua tribulação e conservar-se incontaminado pelo mundo”.
Esta passagem é muito, mas muito ilustrativa para o assunto que estamos tratando. Esta passagem nos explica “como se deve viver a religião” e começa dizendo que nossa religião é vã se não colocamos freio em nossa língua e continua descrevendo-nos as características da verdadeira religião.
Essa passagem
não diz que a religião é coisa má ou que o cristão não tem religião, mas
existe “uma religião pura e intocável diante de Deus Pai”; uma religião
cuja característica é que se viva a partir do interior, não como um mero
cumprimento de preceitos, mas impregnada de uma fé viva que se manifesta em
obras, em caridade para com os necessitados e por manter uma vida isenta de
pecado.
O problema
nunca foi a religião, pois a religião é indispensável. O problema para muitos de
nós pode ter sido viver a religião exteriormente e não a partir do interior. Não
possuir uma religião baseada sobre uma fé viva, ativa – uma“fé sem
obras”, no dizer de São Tiago – é uma fé morta.
Tiago 2,26 – “Porque assim como o corpo sem espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta”.
DE
ONDE VEM ESTA REJEIÇÃO À RELIGIÃO
POR
PARTE DOS IRMÃOS?
Muitos irmãos
separados, ao tentarem se desligar de normas e dogmas, além de possuir fortes
sentimentos anticatólicos, têm tratado de redefinir a palavra “religião”,
associando-a com um simples e mero “cumprimento de preceitos”. Pois bem: após
terem feito tal associação e redefinição da palavra, para que não se vejam
afetados pela mudança, “desfazem o nó” dizendo que o que praticam não é
“religião” (mas o que os outros fazem, sim). É uma forma inovadora de se
distinguirem como um “verdadeiro crente livre de dogmas e religiões”,
oferecendo-lhes uma sensação de liberdade, permitindo-lhes não estar sujeito a
nenhuma espécie de autoridade, exceto naquilo que entendem da Bíblia e sob suas
próprias interpretações. Se não gostam do que alguma igreja diz, mudam para
outra; e se forem carismáticos, talvez fundem uma nova. Como já existem milhares
[de igrejas] e já foram empregados quase todos os nomes conhecidos, talvez
acabem chamando de “Pare de Sofrer” ou “Testemunhas de Deus”. E, por fim, o que
resta?
Eu a chamaria
de “apenas mais uma religião”, mas “sob medida”. Isto não está de
acordo com o que exige a Palavra de Deus:
1Coríntios 1,10 – “Vos conjuro, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo: tenham todos um mesmo pensar e não haja divisões entre vós; ao contrário, estejais unidos em uma mesma mentalidade e juízo”
A passagem
acima não é uma “sugestão”, mas uma “ordem” em nome de Cristo, que exige dos
cristãos UNIDADE; não uma unidade aparente, mas uma unidade que implica coesão
de fé, quer em mentalidade, quer em juízo.
QUAL
A CONSEQUÊNCIA DESSA IDEOLOGIA?
Sem que
percebam, estão apoiando o lema marxista sob o qual milhares de cristãos foram
perseguidos e submetidos. Ei-lo:
“A religião é o ópio dos povos” (Karl Marx).
E prepara o
cristão pouco instruído a tornar-se vítima do enganoso [movimento de] Nova Era,
que prega exatamente o mesmo, mas que todavia segue adiante, afirmando que todas
as religiões são iguais (inclusive o Cristianismo). Para eles, Cristo é apenas
um ser iluminado, rebaixado ao nível de Maomé, Sai Baba, Dalai Lama e tantos
outros.
E
QUAL É A VERDADE?
Nós, cristãos,
temos uma verdade clara:
João 14,6 – “Disse Jesus: ‘Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por Mim”.
Cristo é o
único caminho para o Pai. Portanto, Cristo não é religião, mas “a verdadeira
religião”, “a religião em plenitude”, “a forma perfeita de se relacionar com o
Pai”. Não há outro nome pelo qual os homens possam ser salvos. Porém, estar
unido a Cristo é estar unido à Igreja, que é o seu Corpo.
CONCLUSÃO
Quando um
irmão tornar a vir com a “profunda” frase: “Cristo não é religião”,
tente fazê-lo entender que está repetindo um lema novo e sem sentido; um lema
que nem sequer os protestantes pregavam no século passado e que tampouco pregam
hoje as igrejas protestantes tradicionais. Peça para que ele argumente
biblicamente o que afirma, que analise o que está dizendo, que perceba que só
está repetindo “o lema do pastor”, mas que é algo que realmente não possui o
menor fundamento bíblico. Tente fazê-lo entender o real significado da palavra…
Talvez você consiga fazê-lo refletir e, assim, perceber que está repetindo algo
“sem fundamento”.
NOTA
[*]
Definições semelhantes podem ser facilmente encontradas em dicionários da língua
portuguesa; p.ex: “Moderno Dicionário da Língua Portuguesa – Michaelis”, um dos
mais extensos em significados: religião – re.li.gião – sf (lat religione) [1]
Serviço ou culto a Deus, ou a uma divindade qualquer, expresso por meio de
ritos, preces e observância do que se considera mandamento divino. [2]
Sentimento consciente de dependência ou submissão que liga a criatura humana ao
Criador. [3] Culto externo ou interno prestado à divindade. [4] Crença ou
doutrina religiosa; sistema dogmático e moral. [5] Veneração às coisas sagradas;
crença, devoção, fé, piedade.[6] Prática dos preceitos divinos ou revelados. [7]
Temor de Deus. [8] Tudo que é considerado obrigação moral ou dever sagrado e
indeclinável. [9] Ordem ou congregação religiosa. [10] Ordem de cavalaria. [11]
Caráter sagrado ou virtude especial que se atribui a alguém ou a alguma coisa e
pelo qual se lhe presta reverência. [12] Conjunto de ritos e cerimônias,
sacrificais ou não, ordenados para a manifestação do culto à divindade;
cerimonial litúrgico. [13] Filos= Reconhecimento prático de nossa dependência de
Deus. [14] Filos= Instituição social com crenças e ritos. [15] Filos= Respeito a
uma regra. [16] Sociol= Instituição social criada em torno da ideia de um ou
vários seres sobrenaturais e de sua relação com os homens. [17] Mística ou
ascese. R. do caboclo, Reg (Rio de Janeiro): prática feiticista negra a que se
misturam entidades da mística ameríndia. R. do Estado: a professada oficialmente
por um Estado sem que, com isso, seja proibida ou impedida a prática das outras.
R. natural: a que se baseia somente nas inspirações do coração e da razão, sem
dogmas revelados; a religião dos povos primitivos. R. naturalista: veneração ou
adoração religiosa da natureza nos animais, nos astros etc.; panteísmo. R.
reformada: o mesmo que igreja reformada. R. revelada: a que, como o
cristianismo, se baseia numa revelação divina conservada pelas Escrituras
Sagradas e pela tradição. Ciência das religiões: estudo das religiões como
fenômeno humano universal; pode-se considerar seu aspecto histórico (história
das religiões), psíquico (psicologia da religião) e social (sociologia da
religião). Filosofia da religião: tratado das questões relativas à sua essência
e verdade (N.doT.).
FONTE ELETRÔNICA;
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