Milagre o Testemunho da Verdade

terça-feira, 21 de julho de 2015

A Invocação do Nome de Jesus ou Oração de Jesus



ESTA INVOCAÇÃO de fé, simples e ao mesmo tempo piedosa, – e muitíssimo poderosa em seus efeitos, – desenvolveu-se como tradição da oração cristã em várias fórmulas parecidas, tanto no Oriente quanto no Ocidente, embora tenha sido sempre mais praticada na Igreja Oriental. Trata-se de um tipo de oração pessoal que, por muitos séculos, vêm exercendo um papel extraordinariamente importante na espiritualidade cristã, e que pode ser bem compreendida com a leitura do livro "A Invocação do Nome de Jesus", que tem por autor anônimo "um monge Igreja Oriental".

A invocação mais comum, transmitida pelos monges do Sinai, da Síria e do monte Athos, tem a seguinte forma:“Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tende piedade de mim, pecador”, usando às vezes o complemento "Vivo", em alusão à confissão de São Pedro, resultando em: “Senhor Jesus Cristo, Filho do Deus Vivo, tende piedade de mim, pecador”. Através da simples repetição desta fórmula, feita com entrega e devoção sincera, o coração do devoto fiel se põe em consonância com a infinita Misericórdia de seu amado Criador e Salvador.

Existe uma profunda relação entre a devoção à Sagrada Face de Jesus, ao seu Santo Nome, ao seu Sagrado Coração e à Santíssima Eucaristia (a devoção por excelência). Essas quatro devoções se referem aos aspectos mais significativos do Cristo encarnado (a Face/Rosto, o Nome, o Coração e o Corpo íntegro), e é por meio deles que buscamos o Deus Todo-Poderoso que se fez humano: todas essas devoções são eficazes instrumentos para conduzir a pessoa humana à Pessoa Jesus Cristo/Deus.

Quando se ama profundamente uma pessoa, como quando a noiva está apaixonada por seu noivo, diz o seu nome de um modo diferente; e o diz muitas vezes. Não é como quando chama outra pessoa qualquer: ao pronunciar o nome do bem amado, é como se o estivesse chamando, louvando suas qualidades, aquelas que a tornam cativa do seu amor, e mais e mais apaixonada fica quanto mais clama por ele; de fato, parece declarar o seu amor a cada vez que pronuncia o nome do amado. O tom de voz muda, o coração se entrega.

Assim também todo membro da Igreja, – a Noiva do Cristo, Cordeiro de Deus e Salvador do mundo, – ao pronunciar o santo Nome de Jesus, deve fazê-lo com o mais ardente e agudo amor de que sua alma é capaz, com o mais profundo desejo por sua Presença e Graça. O Amor é a Força que define a Divindade. Assim o Apóstolo João resumiu Deus (cf. IJo 4,8-16). Desse Ser, que é Amor, enquanto cristãos, nós participamos. Pronunciar o Nome do Senhor é clamar sua Pessoa, sua Graça, sua Luz, sua Força restauradora: quando o invocamos, suplicamos pelo Nome à Pessoa, implorando sua Ajuda e Misericórdia.





A origem


A Oração da Invocação do Nome de Jesus remonta aos primeiros tempos da Igreja e às práticas dos primeiros monges, sendo anterior até mesmo à prática do santo Rosário. Diadoco de Fotice1, já no século IV, escreveu: “O que não cessa de meditar, nas profundezas de seu coração, no Nome santo e glorioso de Jesus, poderá ver um dia a Luz em seu espírito”.

A origem da prática, porém, é muito mais antiga. Sua fonte primária está nos Evangelhos, em pelo menos três passagens:

A primeira, a súplica do cego de Jericó, que gritava com insistência: “Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim!” (10, 46-52). Pela sua fé foi curado e então "seguiu Jesus pelo caminho".

A segunda, o clamor dos dez leprosos nas terras de Samaria: “Jesus, Mestre, tem piedade de nós!” (Lc 17,11-14), e todos eles foram curados, graças à sua fé no clamor pelo Nome do Senhor.

A terceira, o exemplo do humilde publicano, que no Templo batia no peito e repetia: “Ó Deus, tem piedade de mim, pecador!”... E Jesus declara que este voltou para casa justificado, pois “todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado” (Mc 10,47 / Lc 17,11-14;18-13).


A invocação contínua do Nome de Jesus é, então, biblicamente, das mais perfeitas práticas de oração para se buscar a Comunhão com nosso Senhor e a sua Misericórdia, quando feita com um espírito cheio de amor, fé, devoção, doçura e esperança. A persistência nesta prática piedosa faz com que o coração do devoto transborde de bem-aventurança, até chegar à completa serenidade. Nos momentos de angústia ou necessidade, o pensamento do devoto deve invocar várias e várias vezes o Nome de Jesus, seu Deus amado, que se torna Luz e Calor do conhecimento de Deus que dissipa as trevas da alma. Também em nossas realizações devemos nos lembrar de invocar o Santo Nome do Senhor com espírito de gratidão e alegria, compartilhando com o Doador de todos os dons e todas as graças a nossa felicidade.


Como fica claro, a oração do Nome de Jesus é semelhante à oração do Rosário à Santíssima Virgem Maria, em sua origem e nos seu objetivos: ambas as práticas têm raízes nos meios monásticos; em ambas imploramos aquilo de que realmente necessitamos, mesmo que não saibamos, pois podemos desconhecer aquilo de que precisamos; em ambas utilizamos palavras da Escritura; ambas são orações para todos, que produzem tranquilidade e, com o tempo e a perseverança, a paz duradoura e a restauração da vida.


Como rezar:



"Senhor Jesus Cristo, Filho do Deus Vivo, tende piedade de mim, pecador!" Simplesmente repita algumas vezes esta simplérrima fórmula, tantas vezes quantas o seu coração pedir, enquanto não cansar, com amor, serenidade e devoção. Se você realmente necessitar de alguma graça, mentalize-a entre as invocações, ou, se preferir, vocalize o seu pedido, crendo firmemente que será atendido. Mantenha a consciência, porém, de que se não for atendido, será sempre o melhor, pois tudo nos é dado segundo a Vontade do Pai para o nosso bem, e de todo mal Deus tira um bem maior. Muitas vezes fazemos pedidos que, se fossem atendidos, mais nos prejudicariam do que ajudariam.

A Oração de Jesus é de uma maravilhosa versatilidade: apesar de ser ideal para iniciantes, ao mesmo tempo conduz aos mais profundos mistérios da vida contemplativa. Pode ser usada por qualquer um, a qualquer momento, em qualquer lugar: nas salas de espera, nas filas, andando, viajando, no trabalho, quando não se consegue dormir à noite ou em momentos de especial ansiedade, quando é impossível concentrar-se em outros tipos de oração. Ajusta-se perfeitamente ao conselho evangélico de orar incessantemente. É o caminho mais simples da oração contínua. Repetida várias vezes por um coração humildemente atento, ela não se dispersa numa torrente de palavras (Mt 6,7), mas conserva a Palavra e produz fruto pela perseverança.




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Porém, enquanto todo cristão pode, naturalmente, recitar a Oração de Jesus de forma ocasional, outra situação é recitá-la continuamente. Para alguns, chega uma hora em que a Oração de Jesus "entra no coração", de uma certa maneira que deixa de ser recitada por um esforço deliberado, mas espontaneamente, continuando mesmo quando a pessoa fala ou escreve, ficando presente nos seus sonhos, acordando-a de manhã. Nas palavras de Santo Isaac, o Sírio: "Quando o Espírito de Deus faz morada num homem, ele não cessa de rezar, porque o Espírito (Santo) vai rezar constantemente nele. Então, nem quando ele dorme nem quando está acordado, a oração será tirada de sua alma; mas, quando ele come e quando bebe, quando se deita ou quando faz qualquer trabalho, mesmo quando está em profundo sono, os perfumes da oração exalarão do seu coração espontaneamente" ('Tratados Místicos', ed. Wensinek, p.174).

Os ortodoxos acreditam que o Poder de Deus está presente no Nome de Jesus, de forma que a invocação ao divino Nome atua "como um sinal efetivo da Ação de Deus, como uma espécie de Sacramento" ('Un Moine de l'Église d'Orient, La Priére de Jésus', Chevetogne, 1952, p. 87).

Tanto aqueles que a recitam continuamente quanto os que a recitam ocasionalmente têm, na Oração de Jesus, uma grande fonte de segurança e júbilo. Citando o Peregrino russo:


“E é assim que eu ando agora e, incessantemente, repito a Oração de Jesus, que é para mim mais doce e preciosa do que qualquer outra coisa no mundo. Às vezes, eu ando até 43 ou 44 milhas num dia e nem sinto que estou caminhando. Tenho consciência apenas de estar recitando minha oração. Quando o frio intenso me penetra, começo a recitar minha oração com mais intensidade e, rapidamente, me aqueço todo. Quando a fome começa a me perturbar, chamo mais frequentemente o Nome de Jesus e esqueço minha vontade de comer. Quando fico doente e o reumatismo ataca minhas costas e pernas, eu fixo meus pensamentos na oração e não sinto a dor. Se alguém me faz mal, tenho apenas que pensar: 'como é doce a Oração de Jesus', e tanto o ferimento quanto a raiva passam e esqueço tudo... Agradeço a Deus porque agora compreendo o significado destas palavras ouvidas na Epístola: 'Rezai sem cessar' (1Ts 5, 17).” ('O Caminho do Peregrino', p.17-18)
Jesus ensinou: “A boca fala do que o coração está cheio” (Mt 12,34). Na história da espiritualidade, encontramos santos que não se cansavam de repetir o Nome de Jesus, para manter no coração, continuamente, a Presença do Bem-Amado Salvador. Podemos e devemos rezar em todos os lugares e situações, pois ninguém poderá nos impedir de pensar em Jesus. E quem ama o Filho de Deus, torna-se mensageiro desse Amor em todos os lugares, sempre.
___________
1. RIGGI C. Diadoco de Fótice en Di Berardino, Angelo, Diccionario Patrístico y la Antigüedad Cristiana, Tomo I, 2ª Ed. Verdad e Imagen, Salamanca, 1991.

Fontes e ref. bibliográfica:
• A Invocação do Nome de Jesus [um Monge da Igreja Oriental], 8ª ed. São Paulo: Paulus, 2008.
• SCIADINI, Patrício, OCD. Catecismo da Oração, 2ª ed. São Paulo:Loyola, 2002.
• O «'Rosário' Ortodoxo, a Oração de Jesus», artigo do Bispo Kallistos Ware, em [ecclesia.com.br/biblioteca/espiritualidade/o_rosario_ortodoxo_kalistos_ware.html], acesso 7/7/015

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