Milagre o Testemunho da Verdade

sábado, 20 de junho de 2015

Louvado seja! Conheça a nova encíclica de Francisco!

Laudato si, Povo Católico!!!
“Laudato si” – “Louvado seja” em português – é a primeira encíclica totalmente escrita pelo Papa Francisco (lembremos que a “Lumen Fidei” foi iniciada por Bento XVI) e como todos esperavam, fala sobre ecologia. Mas, se você acha que todo católico vai virar vegano e começar a abraçar árvores, pode aproveitar o tema ecológico e tirar o cavalo da chuva…
“Laudato si” é um dos documentos mais lúcidos e corajosos dos últimos tempos. Vai fundo no problema e propõe uma nova ecologia: a Ecologia Integral. Quer saber o que é isso? Então baixe o texto oficial da encíclica aqui e acompanhe a nossa exploração desse documento fantástico!
Sao Francicso
O o verso da figura acima é retirado do cântico de São Francisco que dá nome à encíclica. E aí já temos uma inovação: a origem do nome não foi o latim, mas o italiano. O santo de Assis foi a grande inspiração do documento (Papa Francisco não escolheu seu nome a toa) e ganhou menção especial com uma seção totalmente dedicada a ele. A outra característica importante da encíclica é que ela não é dedicada somente aos católicos, mas “a cada pessoa que habita neste planeta” (3).
A encíclica começa com citações de outros papas, e já no início, um discurso de Paulo VI tira a esperança dos abraçadores de árvores:
“…os progressos científicos mais extraordinários, as invenções técnicas mais assombrosas, o desenvolvimento econômico mais prodigioso, se não estiverem unidos a um progresso social e moral, voltam-se necessariamente contra o homem” (4)
- Paulo VI em discurso à FAO, em 1970
Essa é a tônica de todo o documento. O centro da encíclica é a nova ecologia proposta por Francisco: a “Ecologia Integral, que inclua claramente as dimensões humanas e sociais” (137). Esse, na verdade, sempre foi o cerne da luta ecológica da Igreja. O centro deve ser o humano e o meio-ambiente deve ser entendido como todo o contexto da realidade, seja ele natural ou produzido pelas mãos do homem. Mas nosso Papa aprofunda bastante a questão nos 6 capítulos do documento.
Aliás… a gente já sabe que um rascunho da encíclica vazou e começaram a falar malucamente em “Mãe Terra”, dizer que o Papa ia salvar as baleias, essas coisas… o povo achava que ia ser uma encíclica sobre gnomos. Pra essa galera, deixamos o vídeo abaixo.


Mas se você nunca viu gnomos e está mais interessando no que nosso argentino mais querido escreveu, vamos lá…

CAPÍTULO 1 – O QUE ESTÁ A ACONTECER EM NOSSA CASA (a tradução está meio ao jeitão de Portugal)
Esse capítulo faz um diagnóstico bastante preciso sobre as grandes questões a serem enfrentadas e, repare, sempre ressaltando as questões sociais envolvidas, sem se desviar de polêmicas.
As Mudanças Climáticas: aqui, Francisco afirma que elas são uma realidade global, cujos impactos inevitavelmente serão maiores entre os mais pobres, e faz uma denúncia corajosa: “Muitos daqueles que detêm mais recursos e poder econômico ou político parecem concentrar-se sobretudo em mascarar os problemas ou ocultar os seus sintomas, procurando apenas reduzir alguns impactos negativos de mudanças climáticas.” (26);
A Questão da Água: não é só a preocupação com a escassez, mas com a qualidade. Francisco lembra que muitas vidas são perdidas todos os anos por conta da contaminação provocada principalmente por grandes indústrias, e afirma que “o acesso à água potável e segura é um direito humano essencial, fundamental e universal, porque determina a sobrevivência das pessoas e, portanto é condição para o exercício dos outros direitos humanos.” (30);
A Preservação da Biodiversidade: coloca a perda da biodiversidade como consequência direta de uma intervenção humana a serviço apenas do dinheiro e consumo. E deixa claro que não se trata apenas de um conceito, ao atentar contra a diversidade, o homem também vai contra a beleza e perfeição da Criação de Deus;
A Dívida Ecológica: um dos grandes momentos da encíclica. O Papa denuncia corajosamente a “fraqueza das reações” falando principalmente dos países desenvolvidos, ávidos consumidores que já cometeram grandes crimes contra seus próprios ecossistemas, e que pressionam os países em desenvolvimento por recursos, enquanto discursam sobre preservação. Francisco sinaliza que “ao mesmo tempo cresce uma ecologia superficial ou aparente que consolida um certo torpor e uma alegre irresponsabilidade.” (59);
Laudato Si

CAPÍTULO 2 – O EVANGELHO DA CRIAÇÃO
Papa Francisco apresenta as bases bíblicas da visão ecológica da Igreja, lembrando que o fato de sermos feitos à imagem e semelhança de Deus não quer dizer que sejamos donos do universo e possamos avacalhar toda a Criação. E explica a nossa inclinação para isso: “a existência humana se baseia em três relações fundamentais estreitamente coligadas: a relação com Deus, com o próximo e com a terra. Segundo a Bíblia, essas três relações vitais romperam-se não só exteriormente, mas também dentro de nós. Essa ruptura é o pecado” (66).
Mas se engana quem pensa que, falando essas coisas, Francisco está colocando o homem apenas como mais uma parte da Criação. O documento deixa clara a diferença de valor do ser humano e sua missão de “cultivar e guardar o jardim do mundo” (67).

CAPÍTULO 3 – A RAIZ HUMANA DA CRISE ECOLÓGICA
Este capítulo é uma crítica ao mundo tecnocrata. A tecnologia avança, e o que o homem faz com isso? Produz mais, consome mais, explora mais… e isso não se traduz em qualidade de vida. Ao contrário, provoca uma cultura do descarte, do imediatismo, que dá origem à muitas das mazelas que vemos hoje, como o abandono de idosos, tráfico e aborto. A aposta da sociedade deve sempre ser nas pessoas: “renunciar a investir nas pessoas para se obter maior receita imediata é um péssimo negócio para a sociedade” (128).
Repare que aqui a crítica é muito mais voltada para o meio social em que as pessoas vivem. Isso faz parte do conceito de “Ecologia Integral”, que será aprofundado no próximo capítulo.

CAPÍTULO 4 – UMA ECOLOGIA INTEGRAL
Esse é o centro da novidade que o Papa Francisco deseja que a Igreja traga à discussão ecológica. Nesse capítulo a “Ecologia Integral” é definida como uma ecologia “que integre o lugar específico que o ser humano ocupa neste mundo e as suas relações com a realidade que o circunda” (15).  Ou seja, não se trata apenas de natureza, mas do homem, inserido em toda a realidade.
Francisco vai além neste conceito e fala de uma Ecologia das Instituições, chamando atenção para como a sociedade se organiza para garantir que todos tenham condições dignas para viver.
“Se tudo está relacionado, também o estado de saúde das instituições de uma sociedade tem consequencias no ambiente e na qualidade de vida humana: ‘toda a lesão da solidariedade e da amizade cívica provoca danos ambientais'” (142).
Papa Francisco – Laudato si
E, aprofundando mais ainda o conceito, Francisco chega ao nosso cotidiano e à nossa própria relação com a realidade que nos cerca.  Afirma que precisamos entender que nós mesmos somos feitos por Deus para podermos entender a Criação como Dom e não como posse.
“A aceitação do próprio corpo como dom de Deus é necessária para acolher e aceitar o mundo inteiro como dom do Pai e casa comum; pelo contrário, uma lógica de domínio sobre o próprio corpo transforma-se numa lógica, por vezes sutil, de domínio sobre a criação”
Papa Francisco – Laudato si

CAPÍTULO 5 – ALGUMAS LINHAS DE ORIENTAÇÃO E AÇÃO
Esse é o momento “tiro, porrada e bomba” da encíclica! Depois de um grande diagnóstico e aprofundamento das causas do problema ecológico, Francisco propõe ação. E bate muito forte na forma de discussão atual, que gera muito falatório e pouca efetividade.
“As Cimeiras (reuniões) mundiais sobre o meio ambiente dos últimos anos não corresponderam às expectativas, porque não alcançaram, por falta de decisão política, acordos ambientais globais realmente significativos e eficazes” (166)
Papa Francisco – Laudato si
Mas o capítulo não é apenas uma crítica à “alegre irresponsabilidade” da comunidade internacional. A encíclica deixa claro que estes assuntos não devem ser deixados à mercê dos interesses de mercado e propõe um “acordo sobre os regimes de governança para toda a gama dos chamados bens comuns globais” (174). E apela para a pressão do povo e instituições sobre os governos, já que tantas mudanças precisam de um processo longo e claramente não poderiam ser feitas no tempo de um mandato. Deve ser o objetivo de um povo e não de um político.
Mesmo assim, Francisco chama os políticos à responsabilidade e à sair da lógica da eficiência e do imediatismo. Praticamente um chamado à conversão…
“Para um político, assumir estas responsabilidades com os custos que implicam não corresponde à lógica eficientista e imediatista atual da economia e da política, mas, se ele tiver a coragem de o fazer, poderá novamente reconhecer a dignidade que Deus lhe deu como pessoa e deixará, depois da sua passagem por esta história, um testemunho de generosa responsabilidade.”
Papa Francisco – Laudato si
Mas Francisco não pára! Utilizando todo o seu conhecimento sul-americano, critica duramente os “esquemas” utilizados hoje em dia para “garantir” que os projetos respeitem o meio-ambiente.
“A previsão do impacto ambiental dos empreendimento e projetos requer processos políticos transparentes e sujeitos a diálogo, enquanto a corrupção, que esconde o verdadeiro impacto ambiental dum projeto em troca de favores, frequentemente leva a acordos ambíguos que fogem ao dever de informar e a um debate profundo”
Papa Francisco – Laudato si
E como se a sapatada não fosse suficiente, lembra que a discussão sobre a ecologia não pode ser pensada apenas como tema científico e ideológico, lembrando a todos que “a realidade é superior à ideia”.

CAPITULO 6 – EDUCAÇÃO E ESPIRITUALIDADE ECOLÓGICAS
Neste último capítulo, todos são convidados à uma “Conversão Ecológica”, que faça com que nos empenhemos na solução não apenas de questões relativas à natureza, mas principalmente às que se relacionam com o homem e sua qualidade de vida. Além disso, deixa claro qual é o caminho a ser seguido: a educação através da “escola, família, meios de comunicação e catequese” (213).
E, por último, chama a cada um de nós a contribuir com a sua parte. Não por uma questão ideológica, mas entendendo que cada pequeno passo faz parte de uma grande conversão, a exemplo do que nos ensinava Santa Teresinha, porque “uma ecologia integral é feita também de simples gestos cotidianos, pelos quais quebramos a lógica da violência, da exploração e do egoísmo” (230).

FINALIZANDO…
Ao final, Francisco pede que coloquemos todo esse “mundo ferido” nas mãos de Nossa Senhora e sugere que incluamos esta nova dimensão da “Ecologia Integral” ao nosso exame de consciência. A encíclica, que começa com o Cântico do Irmão Sol,  termina com duas orações. Uma para para os que creem em Deus e outra para os Cristãos, conservando o caráter universal do documento.
Enfim, Povo Católico, o Papa nos pede agora uma nova conversão e tem a inteligência de falar de ecologia envolvendo tudo o que tem a ver com o ser humano e não apenas a questão da natureza, como todos costumam olhar. Tem a coragem de dizer claramente que todos os países continuam enxugando gelo por questões econômicas e de chamar atenção para os impactos que isso traz aos mais pobres.
E mais uma vez, a Igreja se coloca como ponto de lucidez e coragem, em meio a imensa bagunça de interesses e ideologias mundanas.
Laudato Si

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